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Um Milagre na Escola do Crime? Episódio 21
Episode 2530th December 2022 • Hextramuros Podcast • Washington Clark dos Santos
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Shownotes



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Transcripts

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Eu comecei a minha trajetória de fiscalização nos presídios em 2005, no meio daquele ano e até o ano de 2007. Em algum momento eu conheci o LACIR, ainda dentro da PEJ, mas, já pastor evangélico, com todo um trabalho desenvolvido na quarta Galeria do prédio B, excelente, com todos aqueles presos que pretendiam mudar de vida.

Depois, em:

E continuou trabalhando, e nós continuamos nos encontrando na cadeia, em eventos que eles faziam...ele e outros ex presidiários, imbuídos do mesmo ideal de luta, a favor da reabilitação, da ressocialização das pessoas através da palavra de Deus.

Eu sou imensamente orgulhoso por ter conhecido o LACIR. Acho que ele é um exemplo a ser seguido, porque ele é a comprovação de que as pessoas com oportunidade podem fazer um caminho completamente diferente daquele que, via de regra, nós temos a impressão de que a sociedade acredita que é o único; que é continuar no crime.

O LACIR é um amigo querido e eu sou muito realizado e fico muito feliz de saber do sucesso e do empenho com que ele leva adiante essa missão que ele recebeu e jamais arredou o pé.

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Honoráveis Ouvintes: sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros Podcast! Sou WASHINGTON CLARK DOS SANTOS, seu anfitrião e, no conteúdo de hoje, inaugurado com a luminosa manifestação do ilustre Procurador de Justiça do Rio Grande do Sul, Dr. LUCIANO PRETTO, trago a segunda parte da narrativa de LACIR MORAES RAMOS, um ser humano, ex presidiário que, após longa caminhada no crime, regenerou-se, é pastor evangélico e, voluntária e graciosamente, atua na evangelização de pessoas privadas da liberdade.

Antes da sequência da narrativa, trago também as palavras do Procurador de Justiça GILMAR BORTOLOTTO:

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Meu nome é GILMAR BORTOLOTTO. Eu sou Procurador de Justiça. Estou no Ministério Público há mais de 30 anos e, no ano de 1998, eu fui designado pelo Procurador-Geral para trabalhar numa promotoria que se encarregava da fiscalização das grandes penitenciárias da Região Metropolitana de Porto Alegre.

ito difícil e, lá no ano de:

O LACIR, na época, já tinha se convertido. Ele estava alojado na quarta Galeria do Pavilhão B da Penitenciária Estadual do Jacuí e, ali, ele fazia o trabalho dele de ajudar muitas pessoas pela via, especialmente, da disciplina e da espiritualidade. Do desenvolvimento da espiritualidade a sair do crime. Eu vi, ali, muitas pessoas com uma vida bem complicada, que foram ajudadas pelo LACIR.

me lembro perfeitamente e, em:

Talvez, o problema de tudo isso é que a gente pense nesses projetos sempre de cima para baixo, direcionando projetos para a vida de pessoas que nós não conhecemos, cujas necessidades nós não ouvimos, e o LACIR, por ter vivenciado do outro lado da grade, vamos dizer assim, ele percebeu quais são as necessidades. Ele viveu uma vida muito difícil, mas, como eu disse hoje, para nós, aqui, que trabalhamos com a Justiça e continuamos com essa ideia de mudança do sistema prisional, ele é, sempre, uma espécie de bússola! Ele nos ajuda em qualquer situação!

Então, a gente quer deixar esse registro, porque é merecido e importante para que outras pessoas possam seguir o mesmo caminho!

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Eu faço trabalho dentro do sistema prisional...Pastoral! Faço um trabalho de capelania prisional com grandes resultados na recuperação de dezenas de presos. Dezenas de bandidos que, quando eu me converti, muitos largaram, também, o crime e desejaram viver uma vida nova. Então, quando eu entro dentro dos presídios, é uma maravilha e eu aconselho e deixo o meu número do telefone e eu digo bem assim: aquele que quiser mudar de vida, quando sair de dentro da penitenciária e não tem para onde ir, liga para mim! Eu trabalho com algumas igrejas que junto, faço trabalho de evangelismo, de capelania prisional com algumas igrejas dentro do sistema prisional e, algumas igrejas dessas, elas têm trabalho pro pessoal que está nas ruas, quando saem dos albergues. Então, temos 4 albergues aqui, a bem dizer; conveniados: quando sai um preso e a direção do presídio me liga, para eu buscar lá na frente da penitenciária, que o camarada não tem para onde ir, eu levo para um desses albergues. Sempre tem uma vaguinha para ele lá, o cara que sai do presídio, mas, isso é uma coisa, mínima! Não tem um projeto específico de governo para receber o que sai do presídio: Ele sai; nós o pegarmos na frente da penitenciária e já levar ele para uma casa! Não tem para onde ir, ou não quer mais voltar para o seu bairro, para sua Vila, vai ficar aqui, nós vamos organizar a tua documentação. E vamos!...Quer arrumar um trabalho? Vamos, primeiro, organizar todos teus documentos. Vamos procurar a tua família. Vamos procurar te retornar para o seio da sua família. Às vezes, são do interior...500, 600 km, fora, larga na porta da penitenciária. O cara não tem para onde ir! Sai sem lenço, sem documento! O que existe é só falácia! Mas, de concreto, não temos nada!

Que quando o camarada sai, procura um albergue, a regra dos albergues, aqui do Rio Grande do Sul: camarada chega lá de noite, 19 horas; toma banho; janta e, de manhã, às 7 da manhã, ele é jogado para fora! Aqui faz muito frio! Chega a fazer 4...5 graus abaixo de zero! Já imagina uma pessoa que mora na rua aqui, quando sai de manhã, às 7 da manhã, é empurrado para fora do albergue, só pode retornar de noite e só vai ser acolhido por 15 dias! Não tem uma palestra, não tem um atendimento! Tem um assistente social, uma psicóloga encaminha a documentação...alguma coisa, mas, o camarada fica zanzado (dá para se dizer, é uma linguagem, um termo que a gente usa aqui no Rio Grande do Sul), quando o camarada 7 da manhã, batendo água, um frio de 4 graus abaixo de zero, a pessoa com 50, 60 anos de idade tem que ir para a rua. Passa o dia todo na rua e, à noite, volta. Quando volta!...Ele tem que se aliar com alguém.

Mas, se ele chegar lá no morro, chega lá na favela, chegar lá na comunidade e se apresentar, dizer que é um ex presidiário, ele vai ser muito bem acolhido! Primeira coisa que dão para ele é uma arma! Uma pistola! Olha: tal hora, nós vamos fazer um evento e tu vai conosco. Já passou a ser um soldado! É uma coisa que deve chamar a nossa atenção, para o egresso do sistema prisional. A situação é bem complexa e a gente tem que buscar, de todas as formas, de despertar os nossos governos, porque o Poder Judiciário não pode mudar isso!...Pode mudar se eles cumprirem, 100%, o que está na Lei de Execução: cara é condenado, vai para dentro do presídio. Se o Estado não tiver condições de cumprir o que diz na lei, solta o camarada! E não ficar com o camarada lá dentro, sofrendo, gemendo, sem perspectiva nenhuma!

E, é mais os miseráveis que sofrem isto. A maior revolta e é uma das revoltas do ser humano preso, é essa: não tem assistência! Não ver a cara do juiz!

Agora, estão tendo essas prisões, que chama quando vai preso e ele passa pelo atendimento, passa pelo juiz, mas, não são todos, porque não conseguem atender a todos que vão presos, que é chamado de videoconferência...vamos ver... estudou: não vai para dentro do presídio. Mas, não tem outros atendimentos. Mas, tem possibilidade de mudar essa história!

Então, os governos têm que se aparelhar para treinar os funcionários do sistema prisional, para atender esse pessoal, para reciclar o camarada quando ele entrar na porta do presídio, ter ali o pessoal para receber, conversar, fazer uma investigação e apontar para ele uma possibilidade de ele ir para um pavilhão onde não tem droga, onde não tem facção, onde ele possa ter uma possibilidade de entrar ali e sair melhor. Isso é possível! E não gasta muito! Temos o exemplo da penitenciária chamada APAC: São pequenas penitenciárias, para 150, 200 presos. Que é atendido só por voluntários, em Minas Gerais, tem algumas APAC’s e eu já fui com uma comissão de juízes, promotores, advogados, deputados. Eu fiz parte de uma comitiva. Nós estivemos em Minas Gerais, na cidade de Itaúna, na chamada penitenciária APAC, que tem uma masculina e uma feminina. A gente visitou! Onde os presos fazem a comida, o preso trabalha, o preso ajuda a cuidar dos outros. É a chamada prisão sem guarda!

Mas aí é só para preso primário? Não! Para todo aquele preso que quiser mudar de vida, ele vai ter que comprovar que quer mudar. Ele vai ter que solicitar para ir para esse sistema, escrevendo para o juiz que ele quer uma vida nova e que está disposto a se sujeitar às regras. Existem regras! E não tem guarda e não usam arma!

Ali entra a parte que o senhor me fez a pergunta dos 3 pilares: Um pilar é o Trabalho! O outro, a Educação, que engloba também o curso profissionalizante. E a parte que chamamos da parte da Espiritualidade. Então, isso aí é o tripé da espiritualidade que é aplicada! A parte da espiritualidade. Eu acompanhei, inclusive, fui um dos palestrantes, lá na cidade de Itaúna, no presídio.

Até um juiz foi junto, daqui da Vara de Execuções de Porto Alegre, também, na época, almoçamos com os presos, 2 deputados. Isso também é uma prova para nós, que existe possibilidade, mas, como eu ressaltei no início lá: Presídio tem que ser o máximo 300 presos, uma guarda bem treinada, bem-preparada, inclusive, os funcionários têm que ser treinados também para receberem as igrejas, os voluntários que vem trazer uma palestra, uma palavra de esperança, uma palavra de fé, uma palavra de amor, com uma palavra de carinho.

Tem uma frase que está escrita nas paredes da penitenciária APAC, que diz assim: Que do amor, ninguém pode escapar. Amém!

E a mão de obra do preso pode fortalecer as empresas e, ao mesmo tempo, estar ocupando o preso com trabalho. Estar ocupando a mente daquele preso. Nós temos, aqui em Santa Catarina, nós temos 2 penitenciárias: uma em Chapecó e a outra em Curitibanos...eu fui lá com uma equipe do DEPEN, Departamento Penitenciário Nacional, com alguns diretores de todo o Brasil. Nós passamos o dia na penitenciária de Curitibanos, onde é um exemplo! Ali, os presos também não tentam fuga, não tem tempo para planejar a fuga e tem diversas empresas dentro dessa penitenciária. 900 e poucos presos, tinha aquele dia, naquela penitenciária de Curitibanos, Santa Catarina, que é do lado do Rio Grande do Sul! Todos os presos trabalhando. Com carteira assinada lá dentro. Com cartão para a família receber na rua. E fica uma porcentagem para a casa prisional, para a manutenção da casa prisional. Então, vejam bem: Nós temos dentro do nosso Brasil! Eu mesmo, só conheço essa casa, que é 100% os presos trabalhando. E é preso de toda a espécie. E tem os trabalhos do final de semana, das igrejas, que entram lá dentro para dar o atendimento espiritual.

Que isso está na lei, está na lei de execuções. O preso pode receber visita do pastor ou do padre ou do missionário da Igreja para trazer uma mensagem para ele.

O senhor falou também sobre a situação que eu fui nomeado pelo governador: Eu fui, aqui, apresentado pelo Secretário de Estado para trabalhar na Secretaria de Justiça aqui no estado, no sistema prisional, para que eu fosse trabalhar na área de curso profissionalizante. Dar um incentivo, motivar o preso! E o sindicato dos agentes penitenciário aqui do estado Rio Grande do Sul, quando ficaram sabendo que saiu no Diário Oficial, se levantaram, ameaçaram greve geral. Ameaçaram uma greve geral no estado, nas penitenciárias, se o governador mantivesse a minha nomeação!

Então, o senhor veja bem: os funcionários, não todos os funcionários, não! Uma meia dúzia do sindicato que diz representar os funcionários do sistema prisional! Eu tenho muito boas amizades com os diretores aqui, com corpo técnico das penitenciárias, mas, o sindicato lançou nota no jornal, na imprensa. Mas, infelizmente, eles deram um tiro no pé, porque eu não fui regenerado, nem recuperado, agora! Eu vim de dentro da penitenciária os meus últimos 18 anos! Eu prestei um grande serviço e um grande trabalho dentro da penitenciária por 18 anos, de relevância na recuperação do homem preso que estava com a mente criminosa. Consegui... estou conseguindo!

E lá, nessa penitenciária onde eu estive pela última vez, continua a grande igreja funcionando plenamente. E aí, Graças a Deus, a imprensa aqui do Rio Grande do Sul, eles vieram a meu favor, dá para se dizer. Como então, como seria a minha vida, se eles que eram para estar felizes, reconhecer: como que para mim, trabalhar voluntariamente dentro dos presídios, nos quais eu entro e saio dia todos os dias, eu sou bom? Mas para ser um funcionário, para receber um salário digno, para sustentar minha família, para pagar minha faculdade -que eu quero voltar-, não aceitaram?

O governador estava em viagem e, quando chegou, reuniu a imprensa e falou: Se ele tiver com a documentação e com as certidões tudo em dia, eu não tenho como exonerar ele. Isso é a lei!

Um salário de R$ 8.000,00, aproximadamente. Eu tenho competência, sou uma pessoa que tem uma competência reconhecida pelos juízes da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre e pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul e a Procuradoria aqui do estado me reconhece como uma pessoa que tem capacidade. E que já demonstrei, venho demonstrando diariamente. Mas, eu acabei pedindo para tirar a minha nomeação, para não ficar chato. Eu creio que eles pensaram...fui na Casa Civil conversar com o Secretário da Casa Civil e, aí, me passaram para a Secretaria do Trabalho. Só tinha uma vaga e, essa vaga, o valor do salário era de R$ 1.300,00. Eu fui para essa vaga, mas, quando troca o secretário, o Secretário ia concorrer a deputado federal, fiquei na fila para ser exonerado. Aí sim! Não era o governador que estaria me exonerando. Seria o secretário que entrou. Enfim, eu acabei, no início das eleições, 3 meses antes, saindo. Mas eu não fui exonerado. Eu recebi uma proposta de trabalho para fazer um trabalho por um período, por um salário mais alto, para um ex-prefeito de Porto Alegre, muito conhecido. E fui trabalhar com ele. Infelizmente, ele não ganhou as eleições e eu estou desempregado!

Então, eu estou clamando aqui, agora que estão se organizando: eu preciso de um trabalho! Trabalhar de voluntário, para eu ir para a penitenciária, eu tenho que ficar esperando vir alguém, passar aqui em casa para me dar uma carona. Eu tenho carro, hoje, Graças a Deus!

Mas eu não tenho condições para pagar a gasolina. Nem a gasolina o estado não me paga para eu prestar esse trabalho voluntário meu! Recebo muitos elogios, mas, eu preciso ser assalariado!

Desse questionário que o senhor me fez, também, o senhor tem me perguntado qual foi o maior motivo de eu desejar tomar a decisão de largar a vida criminosa, largar aquela vida sem Deus! Aquela vida desregrada...

Eu, no ano de:

E chegando em São Paulo, fui para uma pensão, perto da Rodoviária do Tietê e, lá, conversando com o dono da pensão, falei que era do Rio Grande do Sul e procurava trabalho. Ele me indicou um jornal, que tinha justamente, na área da panificação, tinha uma padaria que estava precisando de um padeiro. Eu me apresentei nessa padaria, sem nenhum documento. Dei o nome, meu nome, apenas e eles precisavam que começasse imediatamente. E eu comecei a trabalhar naquele mesmo dia, no final da tarde, para trabalhar à noite, também. E nessa padaria, eu conheci um rapaz que era evangélico, que era o mestre do turno da noite e, conversando com ele... ele, me interrogando e viu que eu era não era de São Paulo e falou que o São Paulo era um lugar muito perigoso. E enfim, fiz uma amizade. Ele me perguntou... eu vim para cá, atrás de trabalho e esse rapaz me perguntou -ele morava numa favela em São Bernardo do Campo-, se eu aceitava dormir no chão na casa dele, ele me levaria para lá. E eu aceitei. E eu fui para a casa desse abençoado, que era um evangélico! Povo evangélico sempre tem, na maioria, um bom coração! E ele me recepcionou, me recebeu na casa dele como um filho. E, logo, me levou na igreja. E veja como é que é! Eu Acredito que por trás disso, hoje, com as experiências de evangélico, com as experiências da leitura bíblica e no convívio da igreja, cada dia vejo mais que, por trás de toda a minha vida, de todos os acontecimentos, Deus tinha um propósito para a minha vida! E eu fui para a igreja. Fui batizado em 3 meses. E comecei a gostar de uma jovem! Veja como é importante, Doutor Washington, como é importante a família!

de novo! Até que, no ano de:

E eu comecei ali, a frequentar os cultos, a participar das palestras dos pastores, dos padres, dos missionários que visitavam a penitenciária. E comecei a acreditar. Comecei a ler a Bíblia e comecei a acreditar no que está escrito na Bíblia, realmente, é uma palavra transformadora, regeneradora, que traz luz para o coração e para a mente do ser humano. Eu sou uma testemunha viva. E a minha vida foi transformada plenamente pela leitura da Bíblia Sagrada! Através da Bíblia, eu aprendi a falar. Através da Bíblia, eu aprendi a escrever. E me tornei um escritor. Eu aprendi a falar porque eu comecei a soletrar a Bíblia em voz alta. Eu não pronunciava muito bem as palavras. E comecei a desenvolver a leitura. E gostar da leitura da Bíblia. Eu li a Bíblia mais de 50 vezes, o que me trouxe muita luz! Me fez acreditar plenamente no Deus, Criador dos Céus e da Terra! E o Evangelho de Jesus Cristo, transformou a minha mente, o meu coração, E me fez dele, Esperança. Me fez acreditar que, realmente, existia a esperança para mim, mesmo numa condenação de mais de 200 anos de prisão. Eu comecei a acreditar na palavra dos pastores que pregavam: Existe esperança para ti! E como se deu? No ano de 2006, saiu o indulto natalino. Naquela época, a minha pena, em 2006, tinha baixado um pouco, já não era mais de 200 e poucos anos. Estava em 182 anos, 5 meses e 10 dias.

de dezembro de:

E aí, a moça que casou comigo em São Paulo, uma moça criada dentro da igreja, filha de um funcionário da Mercedes Benz de São Paulo. São Bernardo do Campo, a minha esposa, mudou com a nossa filha aqui para o lado da penitenciária. E ficou ali me visitando. E nas nossas relações, nasceram mais 2 filhas, com o nosso relacionamento dentro da penitenciária. Ela me visitava na quarta-feira e no domingo. Isso me dava esperança e me dava ânimo, me dava força. Que eu desejava de voltar para um lar. Não sabia onde que era a minha casa, o dia que eu saí em liberdade, eu ganhei um indulto pleno, sem precisar me apresentar em lugar nenhum. No mês de agosto que passou aqui, completou 15 anos que eu estou em liberdade plena, com a Graça de Deus. A minha esposa chegou a falar até com os senadores, com promotores, com juízes. E eles disseram que gostariam de me ajudar, mas não achavam nenhum furo na lei para que pudesse me beneficiar.

Então, foi realmente a mão de Deus e o poder de Deus e a Graça de Deus e, eu acredito, que a minha entrega total, a minha regeneração total e plena colaborou para que Deus ordenasse a minha soltura. E desde que eu saí, estou aqui fora, na sociedade, de cabeça erguida.

Frequento o Ministério Público. Frequento o Fórum Central. Agora, passei a ser um conselheiro do município de Porto Alegre, com a sala que a gente ganhou, dentro do próprio Fórum Central. Eu tenho acesso livre dentro do fórum. Tenho acesso aos gabinetes dos juízes e faço um trabalho, atendendo as famílias dos presos, atendendo aqueles que saem, que não conseguem um trabalho, não conseguem tirar uma documentação. Faço esse trabalho e, realmente, mais de 90%, é a força da família que faz com que o homem queira ter a família junto, queira voltar para o seu lar. Queira voltar para sua casa. Isso também é uma coisa importante! Para a Lei, para a Justiça. Para o Ministério Público. Para o Poder Judiciário.

Eles têm que se preocupar, também, com a família do preso. Nós, como igreja, atendemos ao preso e atendemos à família, para quando o preso sair de lá, com a mente mudada, encontrar outro ambiente, também, quando retornar para o seu lar. Eu ouço, às vezes, falar: mas esses bandidos querem visita íntima! E uma das coisas, também, que me levou ao mais profundo do crime...na época, quando eu entrei, não existia a visita íntima. E acontecia que, o preso, quando entrava no presídio, principalmente um rapazinho novo como eu, que entrei ali no mês que eu completei 19 anos, eu era um rapaz de presença e, naquela época, ou o camarada virava bandido ou virava mulher de preso! Os próprios funcionários do sistema prisional, quando chegava um rapazinho bonito no presídio central, eles vendiam - pasme o senhor-, eles vendiam aquele rapaz para os bandidões, dentro das galerias, quando chegava no pavilhão! Já chegava ali, já lhe recebiam...os presos compravam! Infelizmente, era o que acontecia! E ali eu também tomei a decisão de preservar a minha moral, a minha integridade física. E enveredei para o mundo de desgraça! Isso foi uma das coisas mais chocantes que eu enfrentei no sistema prisional!

Nos debates de autoridades, nos debates, sempre tem alguém falando que tem que tirar a visita íntima. E aí vira num caos, o sistema prisional! Eles têm que aproximar o preso da família. É a família que pode ajudar a encaminhar essa pessoa a retornar uma pessoa melhor também. Momento que o preso fica sabendo que a família dele está sendo assistida, ele começa a mudar também o comportamento dele. Então, a falta da visita íntima, voltam os estupros dentro das penitenciárias.

E disso não tem escape! Porque, como bem, eu falei, na parte anterior, que a administração, a segurança, os policiais penais, eles conseguem apenas manter o preso atrás da grade, atrás do muro. Mas quem manda dentro dos presídios, mesmo, nas penitenciárias, são as facções, com os seus QG’s instalados de uma forma tenebrosa! Meus senhores e minhas senhoras: atentem para o que eu estou falando! A visita íntima, a visita da família, aproximação! Logicamente, eu sei, eu entendo que tem algumas partes, da área de segurança, mas, nunca pensem em tirar definitivamente a visita íntima. Porque o sistema vai virar num caos! Nós temos que preservar a família. A família é uma esperança para o preso. A família é uma esperança para a presa, que vai saber que um dia vai sair, vai ter um lar para retornar. Isso é uma coisa muito importante! Fazer um investimento na família, trabalhar os técnicos para aproximar o preso ou a presa da família. A família e a igreja, eu acredito, que são as partes principais na recuperação do homem ou da mulher que se encontra entre as grades. E, logicamente, o trabalho. O curso profissionalizante, a educação, para que eles passem o tempo com a mente ocupada.

Então, vamos começar a aplicar aquilo que realmente pode ter eficácia na transformação do sistema prisional do nosso país. Como pode acontecer, de um homem como eu fui, a pessoa que eu fui no submundo do crime, que, até eu mesmo tinha medo de mim mesmo! A família, ainda, familiares não conseguem quase acreditar. Agora, por fim, por último, eu vejo que as minhas irmãs, realmente, acreditam que eu sou uma nova criatura, que eu sou uma nova pessoa. E eu não tiro o direito de eles pensarem, antes, que seria impossível eu me recuperar.

E os presos vão nos cursos, porque querem mudar de vida, estão sofrendo dentro do sistema. Sofrendo a desgraça do câncer do sistema prisional, que são as drogas! É a corrupção! Tudo isso tem solução! Mas temos que, com muita urgência e, que essa minha fala, esse meu testemunho, essa minha colaboração, possa realmente chegar nas principais autoridades da nossa nação Brasileira. E que possa surtir o efeito, tocar na mente, na alma, no espírito, no coração desses homens no poder. Agora, teve uma fala do ministro do Supremo Tribunal Federal, há poucos dias, que tem que trabalhar para fazer um desencarceramento. Que se fizer uma fiscalização plena mesmo, como manda a lei de execução penal, eles têm que soltar 50% dos presos. Agora, pegar e soltar os presos e não ter projeto nenhum, é uma preocupação! Mas, eu acredito que, se eles bem fiscalizados, podem mudar o rumo das suas vidas! Forte abraço! Aqui, eu encerro a minha participação. Transmita o meu abraço para o Doutor FABIANO BORDIGNON! Nós precisamos de pessoas como o Dr. FABIANO, administrando essas áreas do sistema prisional, que precisa de pessoas responsáveis e pessoas com coragem de trabalhar para recuperar e pessoas que realmente acreditam na recuperação do preso, porque ninguém nasce bandido! Eu fiz um juramento, dentro da penitenciária, de nunca mais botar uma arma na minha mão. Hoje a minha arma é a Bíblia Sagrada que eu costumo dizer: a pistola, o mosquetão, o fuzil, a metralhadora: elas negam fogo! Mas, a Bíblia Sagrada, tem 66 calibres de fogo e não negam fogo! Forte abraço meu irmão, que Deus lhe abençoe de uma forma poderosa e especial! Fica com Deus!

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Honoráveis Ouvintes: este foi mais um episódio do Hextramuros Podcast, sou WASHINGTON CLARK DOS SANTOS, seu anfitrião! No conteúdo de hoje, conduzi nossa audiência à segunda parte da narrativa do Pastor LACIR MORAES RAMOS, ao qual renovo meus agradecimentos pela participação! O parabenizo pelo seu triunfo pessoal e pela sua jornada em busca do resgate de seres humanos que, por erros cometidos em dado momento de suas vidas, foram privados da liberdade!

Queres saber um pouco mais e comentar sobre o conteúdo deste e do episódio anterior? Acesse www.hextramurospodcast.com, (hextramuros com "h"!) confira imagens, textos e fragmentos exclusivos! Pela sua audiência, muito obrigado até a próxima, Boas Festas e um Feliz e Abençoado Ano-Novo!

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