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Criminofísica - Como a Física e a Matemática Aplicada Auxiliam no Combate ao Crime Organizado.
Episode 448th September 2023 • Hextramuros Podcast • Washington Clark dos Santos
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Shownotes

O crime, fenômeno tradicionalmente analisado por disciplinas como o direito e a sociologia, é abordado no livro "Criminofísica: a ciência das interações criminais" e, nesta entrevista, o autor, BRUNO REQUIÃO DA CUNHA, esclarece a abordagem sob a óptica de campos científicos como a física, a matemática e as ciências de redes e de dados.

Saiba mais!

  • Criminofísica: a ciência das interações criminais - "Fenômeno tradicionalmente analisado por disciplinas como o direito e a sociologia, o crime ganha nesta obra uma nova abordagem sob a óptica de campos científicos como a física, a matemática e as ciências de redes e de dados."



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Transcripts

ANFITRIÃO - 0:14

Honoráveis Ouvintes! Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros Podcast! Sou o Washington Clark dos Santos, seu anfitrião! A criminofísica é uma abordagem científica que busca analisar e compreender o fenômeno criminal por meio da aplicação de conceitos e métodos da física, matemática e outras ciências relacionadas. Ao estudar os fenômenos criminais por meio da criminofísica, os especialistas podem identificar conexões entre crimes e entender os fatores que resultaram na ocorrência de certos delitos, desenvolver modelos preditivos e colaborar na formulação de estratégias mais eficazes para a segurança pública.

No episódio de hoje, sob o patrocínio da Hex 360, uma empresa comprometida com a exatidão, tenho a satisfação de recepcionar Bruno Requião da Cunha, autor do livro "Criminofísica - A Ciência das interações criminais", que leciona como a física e a matemática aplicada, podem ajudar no combate ao crime organizado.

Dando-lhe as boas vindas, Bruno, e agradecendo pela sua colaboração em qualificar este canal, peço que se apresente e fale um pouquinho como nasceu o livro "Criminofísica - A Ciência das interações criminais".

CONVIDADO - 2:00

Muito obrigado pela oportunidade de estar conversando aqui com a audiência do podcast sobre criminofísica, sobre esse livro que publiquei recentemente. Meu nome é Bruno Requião. Eu sou autor do livro. Sou Doutor em Física Teórica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tenho Pós-Doutorado em Matemática Aplicada pela Universidade de Limerick, na Irlanda e fui policial federal por quase 13 anos. Hoje estou na iniciativa privada, trabalhando, também, com investigação criminal.

A ideia do livro e como surgiu a ideia do livro, basicamente, é uma convergência de vários caminhos que eu tive recentemente da área acadêmica, da pesquisa em ciências naturais, em física, da experiência na polícia - na investigação criminal, na Polícia Federal - e na introdução, talvez, quando eu ingressei na Polícia Federal, quando começou a se falar sobre análise de redes sociais na investigação criminal. Então, é uma convergência de vários fatores que levou a essa ideia, que acabou sendo discutida num encontro de pesquisa, que levou a um efeito dominó. Uma coisa levou a outra, até resultar, no livro e na ciência das interações criminais, que vai ser o nosso bate papo de hoje.

ANFITRIÃO - 3:38

Bruno qual é o conceito de criminofísica, como ela difere das abordagens tradicionais do direito e da sociologia e quais são os benefícios de abordar o crime de uma perspectiva científica, além das abordagens tradicionais?

CONVIDADO - 4:00

Esse conceito bebe da fonte do Século XIX, do polímata belga que se chamava Adolph Quételet, que cunhou esse termo sócio física que é, basicamente, enxergar os fenômenos sociais com a mesma visão, com a mesma epistemologia - talvez um termo mais técnico - das ciências naturais, da física, da química, da matemática, etc. Então, basicamente, a criminofísica é essa visão dos fenômenos coletivos, os fenômenos criminais coletivos como fenômenos físicos, como fenômenos estudados da mesma maneira que são os fenômenos tradicionalmente estudados pela física. E com essas aplicações diretas na investigação criminal, na eficiência de investigação criminal. Eu acho que ela difere muito do Direito e da Sociologia, principalmente, por essa questão epistemológica - que é esse termo que eu falei antes - que é, basicamente, como a gente aborda a realidade, a gente aborda a verdade num aspecto um pouco mais etimológico da palavra. Então, basicamente, enquanto a gente tem uma epistemologia mais voltada puramente para exercícios racionais, como o direito, a sociologia em alguns campos de pesquisa humanísticos, nas ciências naturais a gente tem a experiência como a "mãe das provas". Então, essa epistemologia empiricista é o que define a criminofísica, o que diferencia ela do direito e da sociologia. A gente não está interessado em soluções retóricas e em argumentações. A gente está interessado na evidência fática, na evidência empírica, da mesma maneira como a física tradicional busca conhecer os fenômenos.

ANFITRIÃO - 6:19

Além da análise de redes, que outros métodos e técnicas a criminofísica proporciona para auxiliar na identificação de conexões e estruturas do crime organizado?

CONVIDADO - 6:33

Basicamente, todos os métodos que existem, no arcabouço da física, da matemática, das ciências naturais. Desde estatística, a estatística básica até passando por machine learning - o aprendizado de máquina, a inteligência artificial. Acho que tudo isso tem a contribuir com essa visão do fenômeno criminal a partir das ciências físicas. E a gente pode citar aqui, por exemplo, existem cadeias de spin; pessoas, talvez, lembrem do segundo grau: que os elétrons têm essa propriedade de spin. spin up e spin down. Isso, por exemplo, pode ser aplicado para se modelar eleições ou opinião. Opinião positiva ou negativa. Sim ou Não - binária - sobre determinada coisa pode ser modelado a partir desses mesmos métodos que são usados para se investigar, por exemplo, magnetismo. Isso também pode ser utilizado na investigação criminal para se entender como determinado indivíduo decide ou não pelo cometimento de um crime. Outros fatores que podem influenciar; a gente pode falar em como que os índices criminais variam ou não com o aumento da população de uma cidade. Isso tem um paralelo muito grande com um fenômeno que se chama "alometria", em que as proporções acabam variando conforme aumenta o número da população dessa cidade. Então, a gente tem diversos métodos que podem nos auxiliar, desde os mais simples aos mais complexos.

ANFITRIÃO - 8:30

Tens exemplos de casos de sucesso em que a criminofísica desempenhou um papel importante na resolução de crimes ou desmantelamento de organizações criminosas?

CONVIDADO - 8:44

Excelente pergunta! Eu acho que esse é o objetivo ou deveria ser o objetivo de qualquer conceito novo ou de qualquer proposta nova. A resposta curta é sim. Existem diversos casos concretos em que a criminofísica desempenhou e desempenha algum papel e, muitas vezes, um papel bastante nevrálgico no sucesso de algumas investigações criminais, principalmente aqui no Brasil! É difícil discutir casos concretos, específicos e, por motivos óbvios, há muitos casos que correm em segredo de justiça, no meio de investigação, mas sim, a gente observa algum aumento de eficiência. A gente observa uma sensibilização dos operadores de segurança pública da necessidade dessa nova abordagem, da necessidade de concatenação entre os órgãos de aplicação da lei. E eu acredito que muito mais ainda está por vir. Acho que, em breve, a gente vai sentir mais ainda os resultados do uso dessa abordagem, não só dessa, da criminofísica, mas de todas essas abordagens que têm menos foco na retórica e mais foco nos resultados reais, que é o que, no final das contas, o que a população tem como como objetivo. Então, acredito que mais casos, além dos que a gente já sabe que vem acontecendo, vão surgir.

CONVIDADO -:

Bruno; existem casos em que essa abordagem não é eficaz? Que habilidades e conhecimentos são necessários para se tornar um especialista em criminofísica?

ANFITRIÃO -:

Eu sempre gosto de falar que não se está oferecendo uma panaceia para todos os problemas de segurança pública. É mais uma ferramenta e mais uma abordagem! É aquela velha parábola, que várias pessoas cegas começam a tentar descrever um elefante conforme tocam nas partes do animal: um vai descrever de um jeito. Outro vai descrever do outro. Conforme a gente recolhe as observações de todas essas pessoas, a gente tem uma visão um pouco mais completa do bicho. Eu acho que é a mesma coisa, no nosso caso aqui! Existem situações em que, obviamente, a criminofísica não vai ser a solução. Em alguns momentos, há necessidade de disciplinas retóricas para convencimento, para judicialização. Então, cada coisa tem o seu momento. Por exemplo: quando a gente tem redes que tem uma característica muito típica de serem muito homogêneas, de terem uma distribuição de conexões muito específica, a gente não consegue determinar quem são os indivíduos chaves nessa rede! Então, a gente vai ter alguma dificuldade de, inclusive, de se abordar, de se fragmentar redes criminais com essa determinada característica. E existem outros tantos casos em que essa abordagem pode não ser eficiente: quando se tem falta de dados, quando não se consegue mapear de uma maneira eficiente o problema, a rede criminal, organização criminosa, etc. Então, obviamente, há limitações - não são poucas! - como em qualquer outra proposta. Em termos de habilidades e conhecimentos para se tornar um especialista, eu acredito que o principal é a gente ter uma boa delimitação, uma boa diferenciação de como que é - eu sempre gosto dessa palavra - talvez pareça um pouco estranha para algumas pessoas - mas, a gente saber diferenciar a epistemologia das ciências naturais e a epistemologia das disciplinas humanísticas. São epistemologias completamente diferentes! Usadas para coisas completamente diferentes! A gente tem uma tendência a misturá-las. Então, o primeiro passo para se tornar um especialista em criminofísica é saber diferenciar as duas coisas e saber o que é uma epistemologia empiricista - e isso é a gênese da ciência - e o que é a epistemologia mais racionalista, que é típica de disciplinas retóricas. E quando a gente deve aplicar cada uma delas. A partir daí é que vem todo o resto do treinamento específico em ciência de redes e matemática aplicada, etc. Mas o principal, esse é o primeiro passo!

ANFITRIÃO -:

Como a criminofísica pode ser aplicada em diferentes áreas da segurança pública, além da investigação de crimes?

CONVIDADO -:

Eu acredito que, não só na investigação criminal, como, por exemplo, na identificação de alvos chaves na organização criminosa. Mas, nessa macrogestão, na gestão da macro criminalidade, nessa identificação de que os fenômenos estão conectados, assim como todos nós estamos conectados hoje em dia com o mundo inteiro, as redes criminais, também, elas operam de maneira concatenada, de maneira conexa. Então, a gente conseguir observar essa macro criminalidade de uma maneira gerencial, de uma maneira estratégica é, também, um diferencial da criminofísica. E, a partir daí, a gente pode gerir dessa maneira mais eficiente e abordar de uma maneira holística a criminalidade. Isso, talvez, do ponto de vista mais estratégico, seja o grande diferencial da criminofísica.

ANFITRIÃO -:

Há uma relevância no papel das estatísticas na criminofísica? A integração de bases facilitaria e qualificaria os dados estatísticos usados para a análise criminal? Quais são os principais desafios técnicos e científicos enfrentados pelos especialistas em criminofísica no processamento e interpretação de grandes volumes de dados criminais?

CONVIDADO -:

Eu acredito que sim. A estatística tem um papel relevante em praticamente tudo hoje em dia na nossa sociedade, mas, ela é muito mal utilizada, também! É preciso sair das respostas óbvias, da má interpretação estatística dos dados e, o que a gente mais vê hoje em dia, principalmente na mídia, é uma interpretação muito malfeita, o que leva a resultados completamente absurdos. Então, a estatística, ela tem que ser usada com muito critério e isso não se vê hoje em dia na maioria dos lugares, principalmente, onde a gente fala de mídia e de áreas não tradicionalmente envolvidas com conhecimento estatístico um pouco mais profundo, como são as humanidades, quando a gente fala do direito, da sociologia, por exemplo. A integração de bases facilitaria? Qualificaria? Sim, é evidente! A gente tem hoje em dia várias bases de dados. Cada estado tem a sua! Cada entidade, cada órgão de cada estado vai ter suas próprias bases. E a falta de conversa entre essas bases de dados faz com que a gente tenha uma visão incompleta do fenômeno, tanto de vista regional quanto do ponto de vista da macro criminalidade. Então, para a gente conseguir realmente aplicar esses conceitos, a gente precisa ter uma base de dados confiável. A gente precisa poder enxergar o fenômeno do ponto de vista macroscópico e enxergar essa macro criminalidade de uma maneira mais fidedigna. Então, talvez esse seja exatamente um dos principais desafios técnicos da gente ter bancos de dados fidedignos, bancos de dados que sejam confiáveis. E para que isso ocorra, eles devem ser integrados! A gente precisa conseguir ter essa visão holística do fenômeno para poder aplicar essas ferramentas, esses conceitos que a gente vem discutindo.

ANFITRIÃO -:

De que maneira a criminofísica pode auxiliar na tomada de decisões estratégicas e na formulação de políticas de segurança pública?

CONVIDADO -:

Eu acredito que o principal auxílio da criminofísica pode fornecer às tomadas de decisões e na formação de políticas de segurança pública é poder enxergar o fenômeno criminal de uma maneira holística. Poder compreender a macro criminalidade, como ela opera, quem são os elementos chaves dessa macro criminalidade, para que os órgãos de repressão possam priorizar aqueles indivíduos que estruturam essas redes criminais, que estruturam a macro criminalidade e sem os quais essa própria macro criminalidade não consegue operar. Então, essa que, talvez, seja a grande virada de chave e o uso dessa ferramenta como ponto focal na formulação de políticas públicas que consigam ser eficientes nesse desmantelamento dessa macro criminalidade.

ANFITRIÃO -:

Como a criminofísica, pode ser utilizada na identificação e prevenção de crimes de colarinho branco, como fraudes financeiras e corrupção?

CONVIDADO -:

É interessante para a identificação e prevenção de crimes de colarinho branco, mercados financeiros, corrupção, etc! Vem de alguns artigos recentes que estudam esse fenômeno a partir da criminofísica. A gente observa que, por exemplo: redes de corrupção - há algum tipo de universalidade nesse tipo de fenômeno! Então, por exemplo, casos de corrupção na Espanha e redes de corrupção no Brasil, elas tendem a se comportar de uma maneira muito parecida. E o ingrediente chave nesse tipo de rede é a reincidência. Então, existe um número crítico de reincidência, a partir do qual essas redes se estruturam de uma maneira muito rápida. Então, manter a reincidência abaixo desse número crítico é uma ferramenta fundamental para se impedir as redes de corrupção a operarem de maneira eficiente. Então, isso é uma primeira estratégia de otimização da criminofísica. Outra estratégia é a gente utilizar um subcampo, talvez da criminofísica, que é a aplicação de métodos de aprendizado de máquina, de inteligência artificial, para obtenção de padrões criminais, em especial, gerar alertas - os "red flags", que a gente chama - quando algum tipo de transação financeira apresenta fatores que são de risco. Esses fatores de risco podem ser identificados por essas ferramentas da criminofísica que a gente vem discutindo.

ANFITRIÃO -:

Que estratégias são usadas para disseminar e promover a criminofísica como uma abordagem científica no campo da justiça criminal?

CONVIDADO -:

Eu acredito que a principal estratégia é a educação! Conforme vai se criando uma massa crítica de pessoas que conheçam o conceito, que sabem da eficácia dessa abordagem, as próprias redes nas quais a gente vive, assumem o papel de propagar a informação, de convencer, também, os operadores da justiça criminal de que é importante essa visão. Com o tempo, a gente vai observando - os cursos que eu venho dando, também! - magistrados, promotores e procuradores, etc, se interessando pelo tema e traduzindo muitos desses conceitos para o linguajar próprio do meio jurídico. Que, também, a gente tem que entender que a ciência, ela tem o seu linguajar próprio, assim como o direito tem o seu linguajar próprio e em algum momento as evidências científicas, o processo científico - quando a gente fala de investigação criminal - ele tem que ser judicializado. Então, é importante que os operadores do Direito também tenham, pelo menos, uma visão conceitual do que é criminofísica, do que é o fenômeno criminal sob esse ponto de vista e como abordá-lo de uma maneira eficiente e produzir argumentos retóricos, argumentos jurídicos, que se coadunem com essa abordagem.

ANFITRIÃO -:

Podes elencar os principais benefícios da colaboração entre a academia, os profissionais da área de segurança e os órgãos de aplicação da lei na criminofísica?

CONVIDADO -:

É importante destacar que nem tudo o que é trabalho acadêmico é científico, e nem tudo o que é trabalho científico é acadêmico! A gente tem, por exemplo, diversos casos de Prêmios Nobel que foram agraciados, pesquisadores, fora do meio acadêmico. Muito da pesquisa científica feita hoje em dia de alto impacto, é feita fora do meio acadêmico. Então, eu acho que o grande ganho não é, necessariamente, a colaboração entre academia, segurança pública, aplicação da lei, etc. O grande ganho é na introdução da ciência e do método científico nos órgãos de segurança pública, nos órgãos de aplicação da lei! Esse é que é o grande ganho! Obviamente, é que alguma parte dessa produção científica é feita nas universidades. Mas é com a expressão do Nassim Taleb, muito da pesquisa que é feita nas universidades não tem aquela pele em jogo! Aquela visão de realidade! Aquela visão de mundo real, que é, muitas vezes, exclusiva dos operadores da segurança pública! Então, muitas vezes, se produzem conhecimentos acadêmicos, muitas vezes não científicos e, muitas vezes, fora da realidade do fenômeno que está sendo investigado, muito, pelo fato dos pesquisadores não terem essa pele em jogo, essa noção de realidade, essa noção de risco daquilo que está sendo pesquisado. Ainda mais que quando a gente fala em segurança pública, em uma realidade, um fenômeno que envolve, sim e muito, um grau muito grande de risco!

ANFITRIÃO -:

Quais são os requisitos éticos e legais para o uso de técnicas criminais, físicas em processos judiciais? Como garantir a validação e confiabilidade dessas técnicas?

CONVIDADO -:

Eu acredito que os requisitos éticos e legais para o uso dos conceitos das técnicas de criminofísica e processos judiciais são os mesmos já consolidados na investigação criminal, desde o Código de Ética dos funcionários públicos, dos policiais, passando pela própria legislação criminal, do próprio Código de Processo Penal, ela não foge muito à regra! Eu acho que o grande desafio jurídico aqui não é, necessariamente, a construção desses argumentos jurídicos para a validação dessa confiança e a confiabilidade dessas técnicas mas, sim, pela modificação de determinados tipos penais que levem em consideração o papel dos indivíduos na estruturação de redes criminais, na estruturação do crime organizado e no reconhecimento de que, muitas vezes, o papel daquele grande líder de uma organização criminosa não é tão importante assim como a gente imaginava, quando a gente leva em consideração a estruturação, essa "cola social" que faz com que esses grupos acabem existindo e operando. Então, eu acredito que a validação jurídica e a construção de argumentos jurídicos para o uso desses métodos não é algo que seja preocupante, porque as ideias em si já se coadunam com o que se conhece em termos de legislação criminal, aqui no Brasil. O grande "pulo do gato", talvez, seja essa modificação de alguns tipos penais e a adequação desses tipos penais a essa conceituação. A importância de determinados indivíduos na estruturação de redes criminais.

ANFITRIÃO -:

Como observas as perspectivas ativas futuras da criminofísica? Percebes e acreditas na evolução de sua aplicação nos próximos anos?

CONVIDADO -:

Eu acredito que as perspectivas futuras são muito boas! Como eu disse anteriormente, paulatinamente, vem se criando uma massa crítica de operadores da segurança pública interessados numa visão não só retórica, mas numa visão científica do fenômeno criminal. Uma abordagem eficiente, pragmática, desse problema social. Desmistificação de alguns conceitos arraigados, basicamente, de novo, na retórica, sem fundamentação científica. Então, eu acho que a tendência é que com os anos as pessoas se sensibilizem mais e percebam que o uso da ciência é fundamental para se melhorar os índices de violência, para se tornar a investigação criminal mais eficiente, menos retórica, menos burocrática e mais pragmática. Eu acredito que esse é o caminho e, acredito que, mais cedo ou mais tarde, em breve, eu acredito que as pessoas vão se dar conta, vão começar a buscar essas soluções mais eficientes para a segurança pública. Afinal de contas, isso reflete no dia a dia de cada um de nós! Se a gente começa a ter soluções puramente retóricas, sem fundamentação científica, isso faz com que os índices de segurança baixem, com que a gente tenha mais insegurança nas ruas, um país menos seguro, um país mais violento e com mais dinheiro sendo desviado. Então, acho que as pessoas, aos poucos, vêm acordando para essa realidade e vem buscando ferramentas e conceitos mais sólidos, mais científicos. E isso vem e vem convergindo com a proposta da criminofísica.

ANFITRIÃO -:

Meu caro, caminhando para o final de nossa conversa, ao tempo que agradeço pela sua colaboração, o parabenizo pelo teu livro e tua jornada, deixando este espaço para suas considerações finais. Grande abraço!

CONVIDADO -:

Só agradecer, também, a oportunidade. Agradecer pelo bate papo! Sempre enriquecedor a gente trocar uma ideia. A gente conversar. E, como eu disse anteriormente, acredito que é tudo uma convergência e o livro e as ideias talvez não tivessem lugar se a segurança pública do Brasil fosse tão eficiente quanto a gente gostaria. Se os índices de criminalidade, de violência, de corrupção fossem excelentes. Então, acredito que é uma convergência, de uma retomada do elemento científico em várias áreas do da nossa sociedade, em especial na segurança pública! Talvez, a ciência não tenha tido voz à segurança pública, desde sempre, aqui no Brasil! Acho que está na hora de mudar isso, de se observar o fenômeno criminal através do prisma da ciência, lembrando que ciências, aqui, eu falo do ponto de vista das ciências empíricas e não desse guarda-chuva mais amplo. Então, a gente fala do ponto de vista das ciências naturais, da física, da química, da matemática, da biologia. Então, é só essa convergência, desse modo de enxergar a realidade criminal um pouco diferente, talvez, nos dê ferramentas para mudar um pouco o panorama da segurança no Brasil e eu acredito que sim! Acredito que está se criando uma massa crítica de pessoas que entendem essa visão e que conseguem aplicá-la de maneira eficiente no enfrentamento desse problema que atinge a todos nós. Só finalizar então, agradecendo novamente e estamos à disposição, sempre, 24 barra 7! Um abraço a todos e fiquem com Deus.

ANFITRIÃO -:

Honoráveis Ouvintes! Este foi mais um episódio do Hextramuros Podcast! Sou Washington Clark do Santos, seu anfitrião e, no episódio de hoje, sob o patrocínio da Hex 360, uma empresa que alia inteligência e interoperabilidade, conversei com Bruno Requião, autor do livro "Criminofísica. A Ciência das interações Criminais".

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