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Não Reaja! Don't React! Ne Réagissez Pas! - Episódio 23
Episode 2713th January 2023 • Hextramuros Podcast • Washington Clark dos Santos
00:00:00 00:16:01

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Shownotes

Não Reaja! Don't React! Ne Réagissez Pas! - Episódio 23 Hextramuros Podcast website Washington Clark dos Santos



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Transcripts

ANFITRIÃO:

Honoráveis Ouvintes!

Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros Podcast!

Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião.

No episódio de hoje, como um protesto à violência, rendo condolências aos familiares e amigos de DANIEL MASCARENHAS XAVIER DA SILVA, vitimado em ocorrência criminosa no dia 4 de janeiro, na cidade do Rio de Janeiro.

Confesso que, apesar da minha longa jornada na segurança pública, ao assistir as imagens dos fatos que interromperam a vida de Daniel, a mim encaminhadas em grupo do WhatsApp, sem descrição do desfecho, à medida em que se desenrolavam as ações, eu torcia imensamente para o sucesso dele e, no final, infelizmente, restou o choque. Uma lástima!

Desta forma, respeitosamente, passo a contar:

ANFITRIÃO:

de janeiro de:

Talvez, no seu lugar, também, eu não corresse...

Quatro de janeiro de:

Quem dera fosse possível tornar realidade a minha torcida, tal qual naquele chute do Pelé, para que Daniel, ao se desvencilhar das ofensoras, recuperar os itens pessoais e, sem se ferir, voltar para casa. O destino não quis, as perfurações não deixaram, a violência não deixou! “Não reaja! Don't react! Ne reagisse pas! Ne reagisse pas!

Aqui, em três idiomas, a repetida orientação tantas vezes desobedecida por infinitas razões. Aqui, em três idiomas, ferramentas de trabalho do jovem Daniel; atleta, professor, guia turístico, batalhador...

A sobrevivência a eventos como o que originou o desenlace fatídico em tela foi tema do episódio de número 007, fracionado em dois capítulos, respectivamente, com os convidados, especialistas em sobrevivência policial e autodefesa, HUMBERTO WENDLING e ONIVAN ELIAS, aos quais recorri, indagando:

1- Se, momentos antes da ocorrência com o Daniel, pudessem a ele se dirigir e orientá-lo, qual seria este conselho?

2- No momento em que ele decidiu lutar com a ofensora que portava a suposta arma de fogo; percebendo a ausência de disparos, e se vendo atacado pela segunda, com a faca, que orientação lhe dariam?

Eis as respostas, iniciando com o Coronel ONIVAN ELIAS:

Muito chocante, realmente, as imagens! Vamos por partes: o que nós trabalhamos aqui, fortemente, no nosso workshop de proteção pessoal, é o conceito da prevenção da previsibilidade, proatividade, ou seja: faça algo, faça de tudo, para não ser vítima! E o que é esse fazer algo? É, onde você estiver, saindo para pegar seu carro, sua moto, sempre buscar olhar se tem pessoas estranhas, etc...estiver passeando com a sua moto, no seu carro, com o vidro trancado, enfim; procurar, sempre, visualizar a aproximação, geralmente de homens, em dupla ou em quartetos, de motos, bicicleta. Então, isso é o que vamos chamar de condutas preventivas. Ou, quando estiver se aproximando da residência, dar uma verificada se tem pessoas estranhas naquela rua, enfim; em princípio é, evite ser vítima! De algum modo, evitar, também, locais sabidamente que costumam ter roubos são condutas que nós chamamos de proativa, preventiva. Uma vez que a prevenção e a proatividade não foram suficientes, e aí a pessoa foi vítima, ou seja; está no olho do furacão, não tem mais como escolher - que é o caso aí: ele estava sozinho na rua, foi abordado, ele é o que a gente chama de vítima direta. Ele não tinha mais como escolher se ia participar da cena ou não. Ele estava na cena! Ele já está no olho furacão. Então, daí, nós, no nosso workshop, trabalhamos várias, mas são várias mesmas, imagens, todas ocorridas aqui no Brasil, não só com policiais, mas, com a população em geral, de condutas que as vítimas adotaram e as consequências. Ou seja, basicamente, nós mostramos que oito tipos ou oito consequências: vítimas que reagem, desarmadas e sobrevivem; desarmadas, e ficam feridas; desarmadas e morrem; vítimas que reagem armadas e sobrevivem; que não reagem, e morrem, que não reagem e ficam feridas e que não reagem e saem vivas, então nós mostramos basicamente os oito cenários possíveis com dados, com estatísticas e com vídeos. Então, quaisquer um deles são possíveis de acontecer. Nós temos vídeos, reportagens e estatísticas para apontar que uma conduta não é mais indicada do que a outra. Tudo vai depender do seu contexto. Nós diríamos, assim, que temos um mantra ou um paradigma, ou uma regra de jamais dizer às pessoas o que fariam ou deixariam de fazer! Façam ou deixe de fazer! O que nós fazemos, é mostrar uma série de cenários, mostrar uma série de estudos de neurociência, programação neurolinguística, de como a mente funciona em cenários de estresse e, cada um, de acordo com suas habilidades, de acordo com o seu contexto, toma a decisão que entender melhor. Agora, para nós, o que interessa é sobreviver! Se vai sobreviver simulando um desmaio; se vai sobreviver entregando os bens; se vai sobreviver correndo ou se vai sobreviver lutando, reagindo, luta corporal, usando arma de fogo, etc, cada um decide. Para nós, o que interessa é a vítima sair viva!

À primeira pergunta seria: meu irmão; não vá por aquela rua! Ou, pegue um Uber, pegue um táxi! Seria, se possível, fazer essa recomendação, seria a primeira questão.

Na segunda questão, se estivesse na mente dele e, ao perceber que a arma era um simulacro, então, o perigo passa a ser a outra criminosa que, essa sim, estava com uma arma real, estava com um perigo real! Nesse contexto, se eu pudesse entrar na mente dele, uma vez que ele tomou a decisão de reagir, teve contato com o objeto ou seja, o simulacro, e percebeu que era uma arma falsa, então, eu diria assim, eu diria basicamente duas condutas: solta essa mulher! Larga, deixa ela quieta! Iria para cima da de faca; ou, solta essa mulher, já viu que a arma era de brinquedo, simulacro e “perna pra quem te quero!” Ou seja, fuja da faca! Ou uma segunda/terceira opção seria: jogar fortemente essa mulher que ele estava agarrando, com o simulacro, em cima da outra, ou seja, ela funcionaria como uma espécie de escudo para ele, diante da que estava com faca. Então era, ou empurrar, continuar empurrando, girando essa que estava com o simulacro, sempre em direção a outra, para que uma esfaqueasse a outra ou, soltar essa do simulacro e “perna pra quem te quero”, porque a possibilidade, como acabou se mostrando, a outra realmente estava com ímpeto agressivo de esfaqueá-lo. Com faca, nossa orientação primária é, se puder evitar, evite. Corra!

ANFITRIÃO:

Em seguida, as percepções sobre o fato do Agente Polícia Federal, HUMBERTO WENDLING:

Considerando que a gente conhece o resultado da ocorrência, as respostas ou as sugestões elas são, de forma paradoxal, ao mesmo tempo, simples, intermediárias e complicadas. A resposta simples para esse caso seria: não saia de casa ou, então, não leve consigo pertences que você não queira entregar para os criminosos, seja o telefone celular ou documentos, por exemplo. Outra alternativa, se a pessoa, ainda assim quisesse sair de casa, seria: deixe o local onde você está com antecedência ou, saia mais tarde ou, utilize um serviço de transporte, como táxi. Assim, ele evitaria estar presente naquele local e naquele horário. A gente tratou, no seu programa, do “padrão de sucesso”. Antes de responder as questões, que eu chamei de intermediárias ou de complicadas, a gente vai passar para a questão doutrinária. O “padrão de sucesso” diz o seguinte: se a percepção da vítima é de que aquele objeto que está sendo tomado não vale o risco de uma resistência, pelo risco de ser morto, ela deve entregar o objeto e pronto! Se a percepção da vítima, ao contrário, for de que a entrega e obediência não resultar na sua salvaguarda, ela deve escalar para um nível superior, que seria o enfrentamento. O enfrentamento, necessariamente, não significa lutar com o criminoso, mas, implica também, ou inclui também, a fuga, a corrida, por exemplo. Como o telefone celular, que foi objeto tomado da vítima, possui um valor agregado muito grande, embora a gente saiba que existam telefones muito caros, essa análise não vem ao caso, mas, esse valor agregado que eu cito é porque o telefone celular engloba, ele armazena praticamente o histórico de vida de um sujeito. Você tem, ali, fotos, vídeos, recordações, aplicativos. As pessoas trabalham utilizando o telefone celular, então, cada indivíduo acrescenta nesse aparelho um valor agregado muito particular e isso pode fazer com que cada pessoa se sinta - umas mais do que outras - impelidas a resistir à entrega desse aparelho, por causa desse valor agregado. Agora um aspecto relevante, é a seguinte: se a vítima possuía, naquele instante o discernimento para tomar a melhor decisão ou para raciocinar dessa forma. É possível imaginar, elucubrando aqui, que uma vítima que esteja sobre a influência do álcool não tenha a capacidade de discernir entre o melhor momento de se fazer alguma coisa ou não se fazer nada. Um elemento importante também, que pode ter passado pela cabeça da vítima, é o fato de que ele iria enfrentar uma mulher. Então, a sua força física seria um fator preponderante na capacidade dele vencer. Esse é um aspecto relevante, também, que eu penso na questão da motivação. E a gente falou, anteriormente, da questão do valor agregado, mas, a indignação por ser vítima de um ato abominável como esse que é o roubo, também, pode induzir o indivíduo a querer reagir, não necessariamente para reaver o objeto, mas, para lutar contra um comportamento inadequado e aí eu incluiria também, além da indignação, a raiva, como um elemento fundamental para concorrer com esse tipo de conduta.

ANFITRIÃO:

Minha solidariedade aos familiares e amigos...

Descanse em paz, DANIEL MASCARENHAS XAVIER DA SILVA.

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