Artwork for podcast Hextramuros Podcast
INOVAR PARA CRESCER. REFLEXÕES DE JOÃO GRETZITZ
Episode 13430th May 2025 • Hextramuros Podcast • Washington Clark dos Santos
00:00:00 00:16:59

Share Episode

Shownotes

Neste conteúdo, tenho a honra de receber um convidado cuja trajetória profissional transcende os limites da sua atuação institucional: JOÃO GRETZITZ, policial federal aposentado, referência incontornável no combate ao narcotráfico e uma voz lúcida sobre os desafios da inovação no setor público.

Saiba mais!



This podcast uses the following third-party services for analysis:

Podkite - https://podkite.com/privacy

Transcripts

ANFITRIÃO:

Honoráveis Ouvintes! Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião. No conteúdo de hoje, tenho a honra de receber um convidado cuja trajetória profissional transcende os limites de sua atuação institucional!

João Gretzitz, policial federal aposentado, referência incontornável no combate ao narcotráfico e, também, uma voz lúcida sobre os desafios da inovação no setor público. Para mim, pessoalmente, trata-se de uma presença muito especial!

Quando ingressei na Polícia Federal, em mil novecentos e oitenta e oito, e iniciei minha jornada na Delegacia de Repressão a Entorpecentes, em Cuiabá, no Mato Grosso, nomes como o de João Gretzitz iluminavam o nosso caminho, não apenas pela competência técnica, mas sobretudo pelo exemplo ético, estratégico e comprometido com o interesse público. João é autor de reflexões consistentes sobre inovação organizacional tema deste episódio e traz uma leitura qualificada de como as instituições públicas - inclusive a Polícia Federal - podem e devem inovar para crescer superar resistências e atender cada vez melhor a sociedade. E é com enorme respeito que, em nome de João Gretzitz, homenageio aqui todos os grandes nomes que, como ele, marcaram época e nos ensinaram com coragem e inteligência a fazer mais com menos e com muito sentido! Vamos então à nossa conversa! Salve Gretzitz! Saudando-o com a minha admiração e boas-vindas, meu caro, sou muito grato por você ter aceitado o convite! Uma honra tê-lo conosco! Considerando a sua admirável jornada profissional, de que forma a sua experiência como policial federal moldou sua percepção sobre inovação nas organizações?

CONVIDADO:

Obrigado pela consideração e apreço! É uma satisfação poder colaborar! Quando ingressei na Polícia Federal, em mil novecentos e setenta e cinco, eu era formado técnico em contabilidade e já havia trabalhado na empresa Varig. Esta empresa, em termos de inovação e modernidade, era campeã entre as grandes empresas nacionais. E essa sua imagem devia-se ao fato do valor atribuído pela alta direção aos funcionários que mais se destacavam em criatividade e produtividade! Foi com essa formação que cheguei ao Departamento de Polícia Federal. Na época, o DPF era um órgão que ainda estava em fase de construção, mas dispunha de um excelente quadro de profissionais da Academia Nacional de Polícia e conseguiu moldar sua técnica de ensino e currículos de acordo com as melhores academias de polícia do mundo, tal como FBI e BKA! Assim, formou uma geração de profissionais, conhecedores das melhores técnicas, treinados para atuar nos mais diferentes ambientes, capazes de obter excelentes resultados. Contudo, na década de 70, o país atravessava dificuldades econômicas que atingiam diretamente também a infraestrutura de apoio às atividades fins do órgão e sua necessária modernização. Nesses tempos difíceis é que muitos policiais buscavam na criatividade os meios para fugir das limitações de recursos técnicos e financeiros para suas operações, algo que despertou a atenção das polícias estrangeiras - notadamente FBI, DEA e BKA - instituições que levaram muitos profissionais para a especialização em suas academias, que trouxeram de lá uma visão moderna de polícia de primeiro mundo! Eu, mesmo, fui beneficiado, ainda nos anos 80, com uma especialização na academia do Bundeskriminalamt, em Wiesbaden, na República Federal da Alemanha. Anos 80, a Alemanha ainda se debatia com o grave problema do terrorismo político, promovido por extremistas, modalidade de crime que exigia o emprego de modernas técnicas de combate, então desenvolvidos por aquela instituição, no sentido de que tal repressão se desse nos limites da lei, nos estreitos limites da Constituição Federal daquele país. No Brasil, nos anos 80, já não tínhamos um problema de tal gravidade como o terror, mas, sim o narcotráfico, que não deixava de ser um problema que vinha se agravando, notadamente na região amazônica e áreas de fronteira como a Bolívia e Paraguai. Foi quando vislumbrei a possibilidade de aplicar nas investigações contra as organizações criminosas as mesmas técnicas de antiterrorismo, obviamente com o apoio da administração e do judiciário! Uma grande inovação que grandes resultados trouxeram para o combate ao narcotráfico em nosso país, pois, passamos a treinar mais policiais para o emprego da mesma técnica e com isso captar recursos necessários através dos convênios com as congêneres dos Estados Unidos e Alemanha. Sem inovar, as organizações acabam morrendo!

ANFITRIÃO:

A cultura de inovação é mencionada como essencial para o crescimento organizacional. Quais os caminhos para criar e manter essa cultura em organizações com estruturas mais tradicionais e hierarquizadas?

CONVIDADO:

Se trata da cultura da inovação. Sem inovar, as organizações entram em decadência e sucumbem aos muitos desafios. O DPF, como organização armada, é um exemplo clássico de estrutura hierarquizada, também tradicional, uma vez que tem suas raízes no antigo Departamento Federal de Segurança Pública, o antigo DFSP, criado em mil novecentos e quarenta e seis no governo de Getúlio Vargas, de cuja instituição herdou excelentes profissionais, todos com reconhecida bagagem de conhecimentos que proporcionaram a base necessária para os novos policiais que pouco ou nada sabiam das técnicas policiais - sobre o que fazer, quando fazer e como fazer ou não fazer -. Para se manter a cultura da inovação em qualquer organização, se faz necessário, primeiramente, que todos os funcionários conheçam, não só a missão e visão, mas as estratégias propostas, propósito e valores da organização. No caso do DPF, seus idealizadores, os criadores, foram sábios ao criar uma Academia Nacional de Polícia, modernamente arquitetada e equipada, não só tecnicamente, mas também com um corpo docente de excelência, que foi capaz de transmitir aos novos policiais a essência daquilo que necessitava para construir uma nova organização policial - estratégias, propósito e valores - elementos fundamentais que definiam perfeitamente a sua identidade e a estratégia e valores com os quais todos os funcionários policiais e administrativos poderiam estar alinhados e comprometidos. No meu caso pessoal, falando da quarta turma de agentes formados pela Academia Nacional de Polícia, posso afirmar que tivemos o privilégio e a vantagem de termos contado com professores e instrutores que cumpriram com o desafio de transmitir os conhecimentos necessários para que os novos policiais, ao tomarem posse em seus cargos, fossem capazes de promover no seio da jovem organização uma cultura de valorização e de inovação, encorajando-os a contribuir com ideias e soluções para os enormes desafios que se apresentavam em todas as frentes! A verdadeira inovação acontece quando questionamos o impossível e encontramos soluções além dos limites!

ANFITRIÃO:

No contexto de organizações públicas, como a gestão do conhecimento pode contribuir para fomentar a inovação?

CONVIDADO:

Sob o meu ponto de vista, é a partir de uma análise racional dos conhecimentos acumulados que se pode verificar os pontos fracos, pontos fortes, erros e acertos para se entender "em que direção", "o que inovar" e o "porquê do inovar". As organizações públicas, o serviço público, a busca pela melhor oferta de qualidade dos serviços prestados ao usuário deve ser uma constante! Novas práticas são requeridas, pois a população tem um olhar crítico e questionador e já não aceita, facilmente, velhas práticas! Em muitos casos, se faz necessária uma mudança radical para se implantar processos ainda não conhecidos por parte de gestores encarregados de setores específicos. Processos que, às vezes, sequer são ainda empregados naquele determinado ramo! É quando se trata de romper paradigmas em busca da excelência! A boa gestão do conhecimento vai nos mostrar também o "timing" para que tal ou qual ideia inovadora possa ser aplicada. Há coisas que não se devem mexer, pois é uma infraestrutura ou estrutura que garante o funcionamento da "máquina", cuja "máquina" pode ter peças que necessitam de manutenção ou substituição! Já em situações de crise sistêmica, com risco de falência ou colapso total da "máquina", quando se faz necessário o redesenho, então, a retífica geral com base em novo projeto e ideias inovadoras, com base naquilo que se conhece desde a base de conhecimentos acumulados, sem uma perfeita gestão do conhecimento, o gestor jamais saberá onde buscar tal conhecimento nem "o quê", "os porquês" ou, até mesmo, “como” executar o procedimento que se requer no momento! O mundo está em processo acelerado de mudanças que requerem esforços constantes e investimentos em métodos e processos inovadores capazes de atender novas demandas e exigências do público-usuário. Em termos de organizações públicas, tal como em empresas privadas, organizações e corporações, a inovação é determinante na excelência dos serviços prestados ao público-usuário, pacientes ou clientes.

A gestão do conhecimento diz respeito não apenas ao bom uso, como também à segurança das informações, face aos riscos de que concorrentes ou adversários venham a utilizar nossos próprios conhecimentos para nos atrasar, neutralizar ou retirar-nos da corrida em direção ao nosso objetivo. Em termos de segurança na gestão do conhecimento, inovação é primordial para garantir a integridade dos conhecimentos. Daquilo que aprendi no Departamento de Polícia Federal, onde trabalhei por mais de trinta anos, posso dizer que, no processo de gestão do conhecimento, eu tive a oportunidade de conhecer de perto a administração e grandes profissionais, administradores e gestores que souberam valorizar as experiências dos funcionários e colaboradores, valorizando também a informação concentrada por eles e o conhecimento formal que cada um obteve através dos vários cursos e especializações que eram incentivados a fazer, permitindo assim que se alcançasse resultados específicos em setores ou missões específicas, favorecendo sempre a introdução de métodos e processos inovadores. A verdadeira inovação só acontece quando questionamos os processos e encontramos soluções além dos limites do possível!

ANFITRIÃO:

A gestão de pessoas é frequentemente citada como um ponto crítico para o sucesso da inovação. Quais práticas ou políticas você acredita que são mais eficazes para engajar equipes na busca por soluções inovadoras?

CONVIDADO:

No processo de gestão de pessoal, há que se começar pela porta de entrada: recursos humanos! Recrutamento e seleção de candidatos! Este seria o ponto crítico a partir do qual pode-se montar um projeto que será levado por uma equipe afinada com os propósitos determinados. É na fase do recrutamento, nas entrevistas estruturadas e o apoio da psicologia, onde será possível destacar aqueles candidatos capazes de aportar novas ideias, que pensam em soluções inovadoras para os problemas mais complexos, aqueles capazes de "pensar fora da caixa"!

No sentido de engajar funcionários e equipes na busca por soluções inovadoras, as políticas que mais funcionam são aquelas baseadas no respeito ao livre pensar, nas individualidades, nas rotinas pessoais, na maneira de pensar de cada um. Grandes corporações entenderam isso! Funcionários imbuídos do espírito inovador precisam de um ambiente bastante descontraído e livre para que possam dar vazão às suas ideias. Posso falar do Departamento da Polícia Federal, onde ainda nos anos 80, em alguns setores, se aplicou a técnica do "brainstorming", cujo método era de se distribuir a mesma questão a vários funcionários para depois então analisar os resultados e ter ali algo inovador que pudesse atender determinada questão de momento. Na Alemanha, era comum, no âmbito do Bundeskriminalamt, a caixinha de coleta de sugestões afixada em um local de passagem dos funcionários, cuja tarefa de recolhimento e sistematização das sugestões era entregue a um servidor administrativo antigo, bastante experiente e conhecedor do órgão. No caso, os servidores, em geral, eram incentivados pelos seus chefes imediatos a colaborarem com as sugestões, fossem elas quais fossem, de onde surgiam as ideias mais surpreendentes em termos de inovação de métodos e processos, inovação no campo tecnológico aplicado ou técnicas operacionais! Os métodos evoluíram e diversificaram em sua complexidade de análise, mas tudo continua basicamente fundamentado no livre pensar humano! Nos dias atuais, com a evolução da tecnologia da informação e da comunicação, há que se disponibilizar em um site do órgão um local específico para a coleta de sugestões e reclamações - algo totalmente independente da ouvidoria - algo simples e desburocratizado para a expressão do livre pensar do comunicante!

ANFITRIÃO:

A inovação depende de assumir riscos. Em instituições de segurança pública, onde a margem para erro é limitada, como equilibrar a necessidade de inovar com a exigência de resultados confiáveis?

CONVIDADO:

No campo da segurança, a limitação para margem de erro tem que ser estabelecida no âmbito do planejamento. É na fase do planejamento que vão ser revistos e reanalisados dados e informações disponíveis, as premissas, a partir das quais se poderá organizar o plano operacional inovador com a menor margem de erro possível, com táticas inovadoras e estratégias diferenciadas, perfeitamente definidas, de forma a se obter o sucesso da operação. Inteligência e planejamento têm que caminhar juntos, exatamente para a melhor utilização de todos os conhecimentos disponíveis e alcançáveis, de preferência inovadores, mas sem o risco de prejuízos para o resultado esperado, pois, quem falha em planejar, planeja falhar!

ANFITRIÃO:

Honoráveis Ouvintes! Neste ponto, faremos uma pausa e, no próximo episódio, abordando sobre o cenário de restrições e oportunidades, continuaremos nossa conversa com o policial federal aposentado João Gretzitz. Quer saber mais sobre este conteúdo? Acesse nosso website, inscreva-se e compartilhe nosso propósito! Será um prazer ter a sua colaboração!

Pela sua audiência, muito obrigado e até a próxima!

Chapters

Video

More from YouTube