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COLABORAÇÃO E AÇÃO - ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS E IDEOLOGICAMENTE MOTIVADAS.
Episode 9927th September 2024 • Hextramuros Podcast • Washington Clark dos Santos
00:00:00 00:16:21

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Shownotes

No encerramento da conversa com o policial federal MARCOS ROSSETI, o foco será a colaboração e a ação na luta contra o crime organizado transnacional, abordando como a cooperação internacional entre agências de segurança pública pode ser fortalecida e a importância da prevenção e educação para impedir a adesão de indivíduos ao crime organizado de conotação ideológica ou lucrativa. Além disso, falaremos sobre o papel fundamental da sociedade civil e do setor privado nessa batalha.

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Transcripts

ANFITRIÃO 0:14

Honoráveis Ouvintes! Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião! Chegamos à terceira e última parte da nossa conversa, na qual o foco será a colaboração e a ação na luta contra o crime organizado transnacional, abordando como a cooperação internacional entre agências de segurança pública pode ser fortalecida e a importância da prevenção e educação para impedir a adesão de indivíduos ao crime organizado. O policial federal Marcos Rosseti, autorizado pela sua formidável experiência, indica como podemos garantir a proteção de vítimas e testemunhas e incentivar a colaboração com as autoridades. Além disso, falaremos sobre o papel fundamental da sociedade civil e do setor privado nessa batalha.

Este episódio é um chamado à ação para todos aqueles que acreditam que a construção de um futuro mais seguro é uma responsabilidade compartilhada!

Meu caro Rosseti; retomando para o final de nossa conversa, como a cooperação internacional entre agências de segurança pública e justiça criminal de diferentes países pode ser fortalecida para combater o crime organizado transnacional de forma mais eficaz?

CONVIDADO 1:55

Bem, eu vou responder aqui sobre cooperação internacional policial. Eu sou um grande entusiasta do trabalho que é feito pela Interpol! Eu acho que tem eficiência! Acho que tem resultado! Acho que é célere e deve ser estimulado! Nós tivemos uma grande notícia esse ano, que foi a eleição do Delegado de Polícia Federal Valdeci Urquiza como Secretário Geral da Interpol! É a primeira vez que alguém que não seja americano ou europeu consegue chegar nessa posição. Então, acho que tem uma grande chance de que os próximos anos a cooperação policial internacional vá crescer muito, porque o olhar que eu imagino que o Urquiza vai conseguir dar para a Interpol, vai ser um olhar mais inclusivo, dos países periféricos, dos países onde a Interpol ainda tem uma chance de crescer mais! A outra questão, que é interessante também, são as adidâncias, que têm papel ativo, que realmente trabalham junto com as polícias locais. São pessoas de diferentes instituições de segurança pública do Brasil que enviam membros de sua organização para o exterior para trabalhar em parceria com as polícias dos outros países, com as instituições de segurança pública dos outros países. E, quando esses adidos e essas adidâncias são bastante ativas e dedicadas, os resultados são muito bons! A terceira questão que eu vejo, também, que esses cursos de capacitação e cooperação internacional são extremamente valiosos para os policiais brasileiros! Eu só faço uma ressalva aqui: eu vejo que há mais oportunidades para os brasileiros viajarem para o exterior e se capacitarem lá, mas, eu ainda acho que nós pecamos quando os policiais retornam ao Brasil e como nós utilizamos esse conhecimento que é ganho! Isso ainda me parece não muito prático e a chance de policiais se capacitarem bastante em determinada área e, acabarem não trabalhando e não investindo esse conhecimento de volta no país. Isso, eu acho que ainda é um calcanhar de Aquiles para esse nível de cooperação!

ANFITRIÃO 4:38

Que medidas podem ser tomadas para prevenir a adesão de indivíduos ao crime organizado, especialmente entre jovens em situação de vulnerabilidade e como promover a educação para a cidadania e valores democráticos?

CONVIDADO 4:57

Essa é uma pergunta extremamente difícil de responder, porque ninguém sabe muito bem como fazer isso! Quando a gente pensa nessas organizações criminosas ideológicas e como elas conseguem captar esses jovens vulneráveis na internet com conceitos de racismo, com conceitos de xenofobia, de preconceito, mesmo, às vezes, jovens que têm algum nível de instrução recebido ao longo da vida escolar e, mesmo assim, essas organizações se tornam extremamente sedutoras para eles! Então, é um conceito complexo de entender como a sedução ainda acontece! Eu acho que a principal estratégia hoje é investir em pesquisa! A gente tem que entender melhor como é que funciona esse papel da internet na vida desse jovem! Como se consegue convencê-lo a aderir a algum desses movimentos extremistas! Claro que eu não estou desconsiderando nada da minha resposta para uma questão anterior que falava sobre essas vulnerabilidades, mas, por exemplo, existe esse conceito de desradicalização de alguns indivíduos que se aproximam de movimentos de terrorismo e acabam, depois, retornando aos seus países de origem. Os países desenvolvidos, hoje, enfrentam esse problema! Indivíduos que acabam entrando, se juntando ao Estado Islâmico ou outros movimentos terroristas e, depois, eles se desligam do movimento, seja porque foram presos ou porque desistiram e acabam retornando aos países originais e, nesses países, há uma grande preocupação em como tratar esse indivíduo que se tornou um radicalizado! Eles fazem muitas pesquisas em relação a isso e os resultados não são bons! É muito difícil de se desradicalizar alguém! Então, acho que a grande estratégia para isso é impedir que esses movimentos cresçam! É impedir que eles se desenvolvam ao ponto de se tornarem preocupantes! Então, é muita inteligência estratégica que deve ser utilizada e uma atuação bastante precoce!

ANFITRIÃO 7:43

Como garantir a proteção de vítimas e testemunhas de crimes relacionados ao crime organizado internacional e como incentivar a denúncia e a colaboração com as autoridades?

CONVIDADO 7:57

Esse é um enorme desafio! Garantir proteção de vítima e testemunha, ter um programa que seja eficiente é muito dispendioso, não só financeiramente como, também, em recursos de pessoas, em tecnologias e em tempo! E isso é um desafio, aqui no Brasil, e é um desafio nos outros países! Tanto que são poucos países que têm programas, realmente, reconhecidamente eficientes para esses casos! Principalmente, são os países mais ricos que conseguem ter isso. Mas, é uma técnica fundamental, é uma necessidade do meio de segurança pública. Nós vemos casos emblemáticos, como é o caso, por exemplo, do Roberto Saviano, que é aquele jornalista italiano que escreve sobre máfia. É autor do “Gomorra”, do “Zero”, livros excelentes que falam sobre as organizações criminosas italianas! A Annabel Hernandez também, que é uma jornalista mexicana que escreveu sobre os cartéis mexicanos. De quem eu sou grande fã! Tive até a oportunidade de conhece-la, em dois mil e dezenove, em que ela veio a um seminário da Polícia Federal e eu tive a oportunidade de conversar bastante com ela. Nós ainda trocamos de vez em quando mensagens e é uma pessoa que eu admiro pela coragem de ter denunciado tudo o que ela denunciou! E, ambos, Roberto Saviano e ela, jurados de morte. E hoje, com a necessidade de um grande aparato de segurança para protegê-los! Como incentivar a denúncia e colaboração com as autoridades? Somente com a criação de programas que deem a garantia de segurança para essas pessoas. E, como eu disse, deve haver um investimento alto, porque isso vai ter um custo longínquo, às vezes, dependendo do nível de denúncia que for feito. E isso não é fácil!

ANFITRIÃO:

Há espaço no Brasil para a sociedade civil se envolver na luta contra o crime organizado internacional? Como fortalecer a colaboração entre o Estado, o setor privado e as comunidades para construir um futuro mais seguro?

CONVIDADO:

Há espaço e é fundamental que a sociedade civil se envolva! É necessário que sejam feitos mais protestos, que sejam repudiados os atos de extrema esquerda, extrema direita, que esses movimentos xenófobos e racistas sejam prontamente combatidos pelas pessoas! Que pessoas públicas tornem suas opiniões contrárias, públicas! Que se manifestem! Que venham dizer, abertamente, o que pensam! Que mostrar isso a alertar as pessoas, isso é muito importante! E a gente sabe que as organizações criminosas de motivação ideológica, cedo ou tarde, se aproximam do sistema político e elas têm a tendência de eleger candidatos. E, quando a sociedade se mobiliza, essas eleições acabam não acontecendo. Uma situação recente, que eu posso dar de exemplo aqui, é a jogada que foi feita pelo Presidente da França, Emmanuel Macron, que, percebendo que a extrema direita ia alcançar o poder na França, ele resolveu tornar tudo muito público. Ele abriu, fez uma jogada muito inteligente, mas arriscada também, e tentou envolver a sociedade francesa para que isso não ocorresse. E acabou funcionando! É necessário, realmente, a coragem para se discutir isso, mesmo antes de se acontecer algo assim, porque, quanto mais enraizados o preconceito e o racismo estiverem dentro desses movimentos e mais amplos eles se tornarem, mais difícil o combate, depois! Afinal de contas, como o próprio nome diz, é uma orientação ideológica! Isso, eu repeti aqui várias vezes, muito mais difícil de se combater do que simplesmente o crime com motivação lucrativa!

ANFITRIÃO:

Meu amigo, caminhando para o final de nossa conversa, a qual mais uma vez se configurou um momento de aprendizado, agradeço demais a sua participação! Com a minha admiração, deixo este espaço para suas considerações finais. Muito obrigado e fraterno abraço!

CONVIDADO:

Eu só gostaria de agradecer mais uma vez esse gentil convite seu para estar aqui no seu programa! É um enorme prazer falar sobre esse assunto, que eu gosto tanto, que me interesso há tantos anos! É uma paixão! E, estar no seu programa é uma grande honra! Muito obrigado pelo seu convite. Tudo isso que foi dito aqui é uma análise acadêmica, uma análise com base nos meus estudos. Obviamente, as informações que foram utilizadas aqui são de fontes abertas, que as pessoas não vão ter dificuldade de encontrá-las. Claro que existe a minha abordagem e a minha interpretação em relação aos fatos! Eu costumo dizer que ninguém gosta de ir ao médico para ouvir do médico que está doente. Quando se está com mal-estar, sentindo dor, a gente vai ao médico e gostaria de receber um diagnóstico mais preciso possível, afinal de contas, aquele mal-estar pode ser tanto uma gripe que vai passar em dois ou três dias, como pode ser um câncer grave, agressivo e que nós necessitamos as medidas certas para combater aquilo, porque senão o remédio pode se tornar até pior do que a doença! E, quando se fala de organização criminosa, seja de motivação lucrativa ou de motivação ideológica, é fundamental se entender qual é o problema, de se entender o modus operandi, a estrutura, a tipologia, a terminologia, tudo o que envolve organização criminosa para que sejamos eficientes no combate a essa doença! E hoje, por exemplo, aqui no podcast eu falei, principalmente, das organizações criminosas de motivação ideológica. Essas extremistas que, para mim, sempre são um câncer, porque elas têm um potencial de destruição da sociedade que é muito mais grave, na minha opinião, do que das organizações criminosas de natureza lucrativa! Nós já tivemos tantos episódios na história que esses grupos acabaram nos levando a guerras! Nós levamos a destruição a políticas horrorosas como Apartheid e tantas outras que nós tivemos na África! E, tudo isso, surgindo a partir de movimentos abertamente racistas, abertamente xenófobos e que, envolvidos ou não com o crime. Mas, nesse caso aqui, como nós estamos falando sobre criminalidade, envolvidos com o crime, então o que eu acho mais importante de tudo o que eu falei é, exatamente, perceber a gravidade que esses movimentos de extrema direita e extrema esquerda representam hoje, envolvidos com o crime organizado! E como é fundamental que nós estudemos mais esse tema, que nós entendamos mais esse tema e possamos enfrentar esse problema com mais clareza no futuro. Muito obrigado e um grande abraço para você.

ANFITRIÃO:

Honoráveis Ouvintes! Este foi mais um episódio do Hextramuros! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião! No conteúdo de hoje, encerramos a entrevista com o policial federal Marcos Rosseti, abordando aspectos da expansão da criminalidade organizada transnacional e as suas implicações na segurança pública. Acesse nosso web site, saiba mais sobre este conteúdo nos links de pesquisa e compartilhe nosso propósito. Será um prazer ter a sua colaboração pela sua audiência. Muito obrigado e até a próxima!

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