O furacão Milton está ameaçando a Flórida, tornando-se um tema urgente na discussão sobre desastres naturais e resposta governamental. Neste episódio, converso com Leonardo Barros, um empresário brasileiro que reside na Flórida e possui experiência em tecnologias de sensoriamento remota, compartilhando sua visão sobre como os Estados Unidos se preparam para eventos climáticos extremos, destacando a diferença significativa entre a mobilização e a resposta da sociedade americana em comparação com o Brasil. A conversa explora a eficácia das tecnologias de monitoramento e o papel fundamental que elas desempenham na previsão e mitigação de desastres. Além disso, Barros analisa os desafios enfrentados pelo Brasil na coordenação de ações durante crises climáticas, enfatizando a necessidade de uma estrutura mais integrada e colaborativa.
Saiba mais!
Honoráveis Ouvintes! Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião!
Em edição extraordinária e especial, neste conteúdo, cuja gravação teve início às vinte e uma horas e trinta minutos de nove de outubro de dois mil e vinte quatro, trago um tema urgente que está no centro das atenções internacionais. O furacão Milton, que ameaça o estado da Flórida, nos Estados Unidos, podendo se tornar um dos mais devastadores da história recente!
Para falar sobre os preparativos, os alertas e as ações governamentais frente a esse fenômeno natural, temos conosco Leonardo Barros, executivo de uma empresa brasileira do ramo de tecnologia de sensoriamento remoto com sede em Brasília, no Distrito Federal.
Leonardo reside nos Estados Unidos com sua família e traz uma visão única sobre como o governo norte-americano está lidando com a iminência dessa catástrofe.
Além disso, ele nos ajudará a traçar um comparativo com o cenário brasileiro e explorar sua visão acerca da capacidade de resposta de nossas estruturas governamentais frente a desastres climáticos. Léo, seja muito bem-vindo ao nosso canal. Que toda força e proteção estejam contigo, sua família e a população!
Na gratidão pela sua colaboração, peço que se apresente, por favor.
Leonardo Barros:Boa noite, Clark. Tudo bem? Obrigado pela chance de participar e contribuir com o seu público com algumas informações aqui sobre esse evento que está acontecendo nesse momento, aqui na Flórida, que é o furacão Milton.
Rapidamente; eu e minha família residimos aqui no sul da Flórida, numa cidade chamada Boca Raton, que pertence ao Condado de Palm Beach, há mais de 12 anos. Já enfrentamos algumas situações semelhantes a essa, e graças a Deus sempre nos saímos bem, enfim, sempre correu tudo bem.E o outro lado, que você tão bem apresentou, eu dirijo uma companhia, uma empresa brasileira, relacionada, focada na execução de atividades de sensoriamento remoto. O que vem a ver sensoriamento remoto, para os amigos que não conhecem esse termo ainda? É um conjunto de técnicas que buscam detectar movimentos, alvos, alterações ocorridas na superfície terrestre, através de sensores, no caso da nossa empresa, nós somos focados em sensores orbitais, ou melhor, satélites! Nós adquirimos dados de constelações de satélites de observação da Terra, satélites ópticos, satélites de radar, satélites meteorológicos, enfim, satélites que, de alguma forma, observam o planeta Terra. E esse é um assunto, esse é um tema que tem tudo a ver com esse fenômeno que está acontecendo agora, aqui na Flórida, que é o furacão.
Washington Clark dos Santos:Meu caro, sabemos que os Estados Unidos têm um sistema de alerta bastante desenvolvido para desastres naturais.
Quais tecnologias de sensoriamento remoto e sistemas de monitoramento estão sendo utilizados neste momento para prever o comportamento do furacão Milton e como essas tecnologias auxiliam nos preparativos de emergência?
Leonardo Barros:Essa sua pergunta é bem interessante, Clark! E, aí, eu vejo uma diferença muito grande entre os Estados Unidos e o Brasil! Não só a nível do aparelhamento, do aperfeiçoamento, da sofisticação dos sistemas de previsão meteorológica, de sensoriamento ou monitoramento das condições físicas, geofísicas, mas a própria sociedade, a maneira que a sociedade encara e se preocupa e está constantemente atenta, faz com que realmente haja todo esse conjunto, faz com que a reação da sociedade seja, não só, como eu estou falando, sociedade, não só governo, estou fazendo questão de frisar a sociedade como um todo, seja bem diferente do que a gente nota no Brasil. Eu sempre comento com os amigos; o americano, quando deita na cama para dormir, uma das últimas coisas que ele assiste no noticiário da TV é a previsão meteorológica. E, quando ele acorda, ele lava o rosto, liga a televisão e vai ver a previsão meteorológica do dia! Ou seja, o americano realmente é muito atento a essas variáveis!
E sobre os sistemas existentes nos Estados Unidos, a gente nota (estou longe de ser um especialista nessa matéria), mas a gente nota todo um aperfeiçoamento, todo um aparelhamento existente, a poder de muito investimento, histórico e constante, relacionado à questão da meteorologia, aos eventos climáticos, aos eventos geofísicos. Então, seja pelo meio orbital, constelações de satélite, tanto privadas quanto as do governo, quanto as estações, radares, (eu estou vendo aqui, agora, acompanhando 24 horas por dia, já, há dois dias, nem propaganda na televisão passa!). Os principais canais estão 24 horas dando notícia, acompanhando, monitorando tudo o que está acontecendo no Estado. Todas as variáveis impactadas, desde a disponibilidade de combustível, energia, como é que estão as condições de rodagem nas estradas, nas ferrovias, quais serviços estão no ar, quais serviços estão desligados. Realmente, a mobilização é totalmente diferente do que a gente enxerga no Brasil. E aí vale uma observação, Clark: eu também tenho feito muito esse comentário; Graças a Deus, a natureza é privilegiada no Brasil! Então, só de algum tempo para cá, algum pouco tempo, é que a gente percebe no Brasil esses eventos climáticos se tornando mais fortes! A intensidade das chuvas, a intensidade do calor, a intensidade do frio, os ventos agora no sul, e por aí vai! De pouco tempo para cá, o brasileiro começou a tentar de uma maneira mais profunda, mais preocupada com o impacto dos eventos climáticos na sua vida. E, com isso, eu entendo que o Estado também começa a aperfeiçoar os seus mecanismos, o seu aparelhamento, as suas técnicas, etc. É importante a gente fazer essa diferenciação! E, voltando ao cerne da sua pergunta, realmente, o que a gente percebe aqui em termos de sistemas, de aparelhamento, e que são compartilhados, não estão dentro de um centro! Ou seja, a imprensa como um todo é o tempo todo mostrando as telas, os radares, as imagens de satélite. É tudo muito intenso, muito ao vivo, e tudo muito compartilhado nessa hora! Isso é uma outra coisa que eu acho que a gente tem que estar atento no Brasil. A nossa estrutura de governo é muito fragmentada e é o governo de um lado, é privado do outro lado, é academia do outro lado, com uma certa dificuldade de se integrar! Isso é uma coisa que eu percebo aqui nos Estados Unidos, não só nesse furacão, em outros que a gente já teve a experiência de acompanhar por aqui, que nessa hora, realmente, pára tudo! Não tem política! Não tem partido! Não tem privado, Não tem governo! Quem tem o recurso, quem tem o saber, quem tem a prática, se envolve igualmente, ou seja, é o professor da universidade, é o chefe da meteorologia do canal X da televisão, do canal Y da televisão, é o chefe dos bombeiros, é o comandante da guarda nacional, é o governador, são os prefeitos, mas todo mundo junto e não tem discurso, nessa hora, de quem é a responsabilidade! É outra coisa que eu noto aqui! Não tem, neste momento, não tem esse discurso! Vai ver, depois, se alguém agiu bem, melhor ou pior, ou podia ter, de uma outra maneira, ok! Isso é para depois, mas, agora, em momento de crise (esse testemunho eu posso dar para vocês), não existe! A mobilização, a concentração em torno do evento físico que está acontecendo é total!
Washington Clark dos Santos:Em relação às ações governamentais, como tem sido a resposta do governo local e federal nos Estados Unidos para preparar a população e minimizar os impactos desse furacão? Pelo histórico e lições do passado, observas a implementação de políticas públicas eficientes no sentido de proteção e rápida recuperação?
Leonardo Barros:A resposta, as ações de governo, eu percebo também um outro aspecto; a mobilização da estrutura de governo, (e aí estamos falando especificamente do executivo -prefeitos, governador e até o presidente da república), também, neste momento, é mais consistente, é mais coesa! Por exemplo; no caso agora desse furacão, do Milton, tem pelo menos dois dias (eu posso testemunhar, que o governador da Flórida, o De Santis -e olha que eu não estou o tempo todo na frente da televisão- mas é, no mínimo três, quatro coletivas com o staff dele, ao redor dele, falando e falando abertamente de uma maneira muito direta) e, hoje mesmo, eu ouvi um pronunciamento dele enfatizando, mais uma vez, uma determinada zona, uma região de evacuação mandatória e ele falando: "olha, aqueles que não evacuarem, provavelmente irão morrer"! Ponto! Doa quem doer, fala a verdade! Até porque o cidadão que optar de ficar contrariando naquela região, contrariando a instrução do governo, das autoridades, dos especialistas, ele assuma a responsabilidade dele. O Estado não vai ser responsável por uma atitude, por vezes, irresponsável daquele cidadão. Então, eu quero usar esse exemplo para demonstrar a clareza, a objetividade da comunicação! Isso é um ponto muito importante!
E essa comunicação, o que eu acho, voltando à pergunta anterior, fazendo até um link, a autoridade consegue ter esse nível de segurança, inclusive de afirmar que quem não tomar determinada atitude provavelmente vai morrer (no caso, teve uma prefeita de Tampa, afirmou - ela não falou "provavelmente"- "quem ficar nessa região vai morrer!". Ela falou de uma maneira enfática. Dura! E o porquê que eu imagino que essas autoridades têm essa segurança de fazer uma afirmação tão grave, tão pesada quanto essa? Exatamente pela confiabilidade dos sistemas de monitoramento, dos sistemas de sensoriamento remoto, seja por meio de sensores orbitais, sensores terrestres, sensores marítimos, e pelo próprio amadurecimento na utilização desses dados (que, uma coisa é adquirir os dados, outra coisa é a modelagem desses dados, é trabalhar com esses dados de forma madura, de forma consistente, para que se gere, chegue aos indicativos, às informações!). Eu acho que o aparelhamento, o amadurecimento -um investimento histórico e sistemático em cima do aperfeiçoamento de todo esse conjunto-, a união de especialistas, sejam de origem privada, sejam do setor público, sejam da academia, faz com que a autoridade tenha essa segurança nessa comunicação. E isso é muito importante! Eu vejo -mesmo quando um anúncio tão grave quanto esse é feito-, é importante! A gente sente a emoção, sente a gravidade, e aí, por consequência, vem o respeito à instrução, pelo menos da grande maioria! É isso que eu percebo. E o mecanismo, o antes; é prevenir, é instruir, é orientar para onde vai, para onde tem que ficar, etc. As ações de resposta que você também pergunta, eu acho muito interessante! Por exemplo: o governador, (um dos últimos pronunciamentos que eu vi hoje), o governador De Santis comentando que, eu acho, que 28 estados norte-americanos já, (as companhias de distribuição de energia desses estados) já estão enviando caminhões, funcionários, etc. para ficarem de prontidão aqui na Flórida para as ações de reparo! Nessa hora, a questão da energia, a rede de distribuição de energia sofre muito nesse tipo de incidente. Então, isso é uma demonstração. E aí não tem custo, ninguém pensou no custo! Realmente, é uma mobilização!
Eu, -não nesse- não tive oportunidade de ir lá, (mas também já esqueci o nome), de um furacão que ameaçou, (acho que foi o Matthew) passar por aqui, também era um furacão devastador, categoria 4, categoria 5, etc., em um estacionamento de um grande shopping center que tem aqui na nossa região, ele foi transformado em uma das principais bases de operações da companhia de energia aqui, a FPL. E era um mar de caminhonetes, caminhões, equipamentos! Você olhava o estacionamento e o estacionamento estava lotado! E de várias cores, ou seja; várias companhias, não só da companhia, a FPL aqui da Flórida, mas companhias de outros estados! Então, essa mobilização, (e mais uma vez), a mobilização é feita antes do furacão chegar! Aconteceu da vez passada, graças a Deus, ele desviou na última hora e a gente foi muito pouco, para não dizer que quase nada afetado, esse aparato acabou não precisando ser utilizado, mas ele estava lá à disposição! E mais uma vez, hoje, eu ouvi o governador falando, agradecendo, inclusive, o apoio dos outros estados. Ele mencionou 27, 28 estados, alguma coisa assim, que já enviaram recursos para a Flórida.
E não estamos falando da doação da garrafa de água mineral, do agasalho, que é muito importante, eu não estou desvalorizando, mas eu estou falando de recurso, aparelhamento, recurso de resposta aos danos que,porventura, venha a ser ocasionado pela tempestade!
Washington Clark dos Santos:Olhando para o Brasil, sabemos que enfrentamos eventos climáticos extremos, como enchentes, deslizamentos e seca. Na sua opinião, como o Brasil se compara em termos de preparo, tanto em tecnologias quanto na capacidade de resposta do governo para lidar com desastres naturais?
Leonardo Barros:Só de poucos anos para cá, a sociedade como um todo, e por conta disso, o próprio Estado, as próprias autoridades de Estado, que realmente, com a intensificação dos eventos climáticos e na diversidade deles, é que a gente realmente começou a se mobilizar.
Uma coisa que me preocupa é o que eu me referi anteriormente, essa estrutura de Estado altamente fragmentada! Então, até aqui esse detalhe é um órgão X que cuida! Ah, mas se passar disso, aí tem que ser outro órgão ligado a outro ministério, com outra prioridade de gestão! Ah, mas se passou mais daqui, aí vem o terceiro órgão, terceira agência, quarta, quinta, sexta, sétima agência ou órgão, enfim! Isso é uma coisa que eu acho que a gente vai precisar aperfeiçoar, porque na emergência das situações, (a gente viu alguns meses atrás, a tragédia do Rio Grande do Sul, ficou público (eu não estou fazendo crítica a governo nenhum, nem ao estado, nem ao federal. É uma constatação!) a dificuldade do Estado, enquanto municípios, enquanto Estado, enquanto FederalU-União-, se organizar, se mobilizar. Literalmente, o que a gente assistiu foi a população por si só, com recursos próprios, mandando lá o que podia mandar para ajudar, ou a gasália, a garrafa de água mineral, o alimento, etc. E o Estado, demorando, demorando, porque tem que conversar, tem que reunir! A reunião envolve dezenas, para não dizer centenas, de órgãos e agências, etc. Até conseguir mobilizar isso tudo, a gente viu o que viu uma demora, uma frustração, inclusive, da população em relação ao apoio, à proteção do Estado! E, mais uma vez, eu não estou me referindo a governo. Isso é uma situação que a gente vem assistindo, testemunhando no Brasil, entra governo, sai governo devido, eu reputo isso principalmente, devido à estrutura do Estado brasileiro, esse nível de fracionamento que caracteriza a estrutura do nosso estado, faz com que na emergência, e emergência é gente passando fome, é gente morrendo, é gente doente, é gente precisando ser socorrida, é gente precisando ser resgatada, e com o advento dos eventos climáticos cada vez de maiores proporções, atingindo regiões e, consequentemente, tamanho de população cada vez maior, a gente vê uma situação que já é muito difícil de aviação, de coordenar um plano de ação. No caso do Brasil, a gente ainda tem que aprender bastante nesse sentido. Nós vamos ter que aperfeiçoar a nossa estrutura para ter essa...Como a gente... Eu me referi agora, u seja: os caminhões de mais de 20 estados, os caminhões, os equipamentos de companhias elétricas já estão estacionados aqui na região. Esperando o que pode vir a acontecer. Esse nível, no Brasil, eu reputo que nós estamos muito distantes. Muito distantes! Precisamos estar atentos. Precisamos melhorar os mecanismos de predição para gerar segurança nas nossas autoridades de Estado! E precisamos melhorar a forma de nos organizarmos enquanto Estado, enquanto sociedade, para darmos respostas rápidas e efetivas.
Washington Clark dos Santos:Quando falamos de um desastre dessa magnitude, a recuperação das atividades socioeconômicas é crucial. Nos Estados Unidos, há planos de ação que visam restaurar rapidamente a infraestrutura e os serviços.
No Brasil, quais são os maiores desafios para implementar esse tipo de resposta eficiente em casos de grandes desastres climáticos?
Leonardo Barros:Essa sua pergunta é muito boa! Eu, sem querer, comecei a explorá-la na resposta anterior, Clark. Os planos de ações, como eu comentei, o evento nem aconteceu e o plano de ação já está em execução. Contingentes, seja do estado, bombeiros de outros estados, caminhões de equipamentos de companhias elétricas de outros estados, trabalhadores de companhias de água e saneamento, e aqui, são privadas! Detalhe é esse! Tudo isso, energia é privado, água, saneamento é privado, já estão sendo concentrados aqui na Flórida para apoiar as companhias locais. E o evento não aconteceu! Ou seja; na medida que os incidentes, os danos ocorrerem, e assim que for possível, com a devida segurança, que essas estruturas, esses aparelhos, esses trabalhadores possam ir a campo, eles já estão aqui mobilizados. Isso é muito importante. E, por outro lado, (aí vem um outro aspecto que também é muito importante e isso é uma coisa bacana no Brasil, que eu me referi também) o espírito comunitário, nessa hora, fala mais alto e o que a gente vê muito no Brasil é esse espírito comunitário que eu me refiro de o meu vizinho aqui, a janela dele quebrou e eu vou lá ou ele vem aqui na minha casa e ajuda a consertar, para tomar alguma providência. Estou dando um exemplo bobo aqui da janela; vamos colocar aqui uma madeira, uma tábua para tapar aqui o dano da janela, eu não preciso ir lá chamar, ele vai vir. Isso no Brasil eu percebo que nessas horas o nosso povo se mobiliza. Quem realmente demora, não acompanha, inclusive não suporta ou demora a suportar essa mobilização comunitária é o Estado brasileiro. Nesse aspecto eu percebo realmente -uma outra coisa- o plano de ação que você se refere, uma coisa que o americano faz rápido, muito rápido, é quanto custa! Quanto vai custar? E aí é uma questão bem mais complexa, são outras variáveis, o poder da economia, é um país, é uma economia baseada não só numa moeda forte, mas na moeda referência do mundo, que é o dólar.
Aí tem uma série de outras variáveis que permitem que o americano, a partir dessa conta, rápida, essa apuração de qual que é o valor do dano, ele se organize para pagar essa conta. Isso no Brasil a gente tem que reconhecer que é uma questão muito mais complexa.
Nós somos obrigados a gerir o país com uma limitação muito maior do que as autoridades americanas.
Washington Clark dos Santos:Olhando para o futuro, como você vê o papel das tecnologias de sensoriamento remoto na mitigação de riscos climáticos? O que podemos aprender com os avanços tecnológicos aplicados a essas situações?
Leonardo Barros:Sobre o papel do sensoriamento remoto na mitigação desses eventos e dos consequentes riscos climáticos, é fundamental! Não é nem importante! É mais do que importante! É um setor, é um ramo, é um conjunto de métodos e tecnologias (mitigação dos riscos relacionados aos eventos climáticos extremos, sem um sensoriamento remoto, você nem começa, só pra definir de uma maneira muito rápida, bem direta)! Eu te diria que sensoriamento remoto é um pilar central nesse tema! E aí o alerta, mais uma vez eu faço, é essa questão, às vezes me dá uma impressão de uma quebra de braço! Em vez de nos unirmos e aproveitarmos o que cada um pode dar de melhor, uma agência jura de pé junto que ela já tá tudo certo, ela não precisa de mais nada e está tudo bem! É o privado de um lado, a academia do outro lado, a estrutura do Estado do outro lado! Nesse aspecto, o grande obstáculo para a gente evoluir com agilidade, (que, não basta evoluir! Nós temos que evoluir com agilidade). Ou seja, nós temos um "gap"tecnológico grande! Me desculpe eu ser sincero e taxativo nessa minha afirmação! Para suprir esse gap. E o que eu vejo? Falta tecnologia? Faltam talentos brilhantes no Brasil? Não, não faltam! Tecnologia (até porque o acesso à tecnologia, hoje, é extremamente facilitado, não falta!). Transferência de conhecimentos; vamos lá buscar os modelos alemães, os modelos americanos, os modelos franceses, por aí, também, isso hoje é mais fácil do que nunca! O que eu acho, sinceramente, falta humildade, uma atitude mais humilde, mais colaborativa, mais comunitária, no sentido de podermos nos unir e tirar o que cada um pode dar de melhor, independente de qual cadeira da mesa você está sentado! Eu sinto, por vezes, a gente (eu sou da iniciativa privada) podendo contribuir de uma forma decisiva! "Ah, não, mas você não faz parte do Estado!" Mas eu sou brasileiro! Minha empresa é brasileira! Nós estamos diante de um problema sério, afetando o nosso povo, afetando o nosso país! Por quê? Por que é toda uma situação secundária, se eu posso ajudar? (Quando eu digo EU, eu estou me referindo a uma estrutura, o EU é hipotético!) Nesse aspecto, aqui, como eu falo, o governador está lá com o staff dele, está lá com o general da Guarda Nacional, o xerife do condado, o chefe do corpo de bombeiros, o chefe da "agência não sei o que" de águas e por aí vai, o professor da universidade tal, que é "especialista em não sei o quê", está todo mundo ali, e todo mundo em pé, e todo mundo acenando positivamente, indo para um rumo! Aqui no Brasil, você concorda? Eu acho que eu não estou exagerando! Todos os ouvintes vão concordar: aqui, se um deu uma opinião mais interessante, o outro fica mordido e tenta buscar um papel melhor e acaba desfocando! O que eu percebo é que muitas das vezes, na maioria das vezes, grande parte dessa mobilização perde o foco por parte do Estado, mais uma vez! E mais uma vez, eu vou enfatizar, não estou me referindo a governo A nem a governo B! Eu, inclusive, nesse ponto, eu não gostaria de estar na pele dos presidentes da República que, por muitas vezes, mobilizam, tem a notícia que o Estado está completo, está plenamente capaz de atender, de suprir aquela determinada crise e na prática quando vê, eu imagino que eles devam ter uma sensação, até um tanto quanto, de traição, porque o feedback da população, o feedback da comunidade, normalmente, é de muita frustração com essas respostas!
Washington Clark dos Santos:Leo, caminhando para o final desta conversa, repriso os meus votos a você, família e população de muita força, proteção e que nada de mal ocorra. Deixo este espaço para suas considerações finais. Muito obrigado.
Leonardo Barros:Peço desculpas se eu gaguejei ou fui repetitivo! São dez horas e quarenta e quatro minutos aqui, da noite, onze horas e quarenta e quatro do Brasil! A energia oscilou duas ou três vezes enquanto eu estava falando aqui no celular. Eu estou sentado aqui na poltrona da sala, gravando esses áudios aqui pelo celular e, ao mesmo tempo, olhando aqui para a janela, olhando as imagens da televisão, o que está acontecendo. Muito obrigado pela oportunidade! Para tranquilizar, também, Palm Beach, o nosso condado aqui, os efeitos, teoricamente, vão ser secundários. Então, graças a Deus, o rumo do furacão, ele está mais ao norte um pouco! A gente já começou a sofrer! Tivemos hoje uma série de tornados que provocaram algum nível de destruição. Tornados bem fortes! Do furacão propriamente dito, muito provavelmente, a gente estará bem preservado! Graças a Deus, é mais um ano, mais um furacão que a gente vai passar ileso! Clark, um abraço para você! Muito obrigado! Daqui uns dez dias eu estou no Brasil. Faço questão da gente tomar um café juntos! Abraço a todos!
Washington Clark dos Santos:Honoráveis ouvintes, este foi um episódio extraordinário do Extramuros, seu Washington Clark dos Santos, seu anfitrião.
de outubro de:Pela sua audiência, muito obrigado e até a próxima!